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Conversas Sub-30: “Só se percebe o quanto se gosta do Porto quando se sai daqui”, afirma Leonor Plácido

  • Paulo Alexandre Neves

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Filipa Brito

Leonor Plácido tem 23 anos e é natural do Porto. Com o “bichinho” pelo teatro decidiu tentar a sua sorte. Primeiro, tirando o curso na Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE) e depois seguindo para Inglaterra onde fez um curso, em “Acting”, na Universidade de Northampton (Inglaterra). Licenciou-se em plena pandemia, o que tornou o início da sua carreira nas artes difícil. Mas não desiste. Adora trabalhar com crianças. Espera um dia poder conciliar todas estas paixões.

Desde quando é que teve o fascínio pela representação?
As pessoas do teatro têm sempre a mesma resposta, mas em pequenina já era considerada a “palhacinha” da família. Anos mais tarde houve oportunidade de fazer uma audição para um musical e consegui entrar para o elenco. Aí, comecei a pensar: “gosto mesmo disto”. Os meus pais deram-me todo o apoio para, pelo menos, tentar. Claro que têm sempre aquelas preocupações, naturais, porque pensam no nosso bem-estar.

Como era o Porto da sua infância?
Vivi em Gaia, mas sempre estudei aqui. Só se percebe o quanto se gosta do Porto quando se sai daqui. Quando voltava era uma sensação de estar em casa, de conforto, uma cidade barata quando comparada com Londres, para onde fui estudar.

E hoje, o que é para si esta cidade?
É o sol. Foi das coisas que senti mais falta quando estive em Londres. Cá, as energias restauram-se, com o mar, o sol, as pessoas.

Porque escolheu o Jardim das Virtudes para esta entrevista?
Tem uma vista única sobre o rio. Fiz o curso na baixa e este era um dos sítios onde, depois das aulas ou à noite, encontrava imensos amigos. É um dos locais da cidade que mais gosto.

Em Portugal, quando se estuda teatro parece que é fora do normal

Londres, uma outra realidade…
As pessoas, a cultura, tudo é diferente. Não há comparação possível. Mesmo assim continuo a gostar muito do Porto. As pessoas não percebem o bom que é a nossa cidade, porque estiveram sempre por cá. A qualidade de vida não se compara. Somos muito mais felizes.

Teve de emigrar. Necessidade ou risco calculado?
Na altura, foi uma decisão entre uma opção para a minha vida e porque queria muito conhecer outras realidades. Os meus irmãos já tinham saído para irem estudar e eu também quis experimentar esse bichinho. Fiz um curso fantástico na Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE), mas senti que, a seguir isso, não havia nada que complementasse a minha formação. Por isso, decidi experimentar ir lá para fora. Em Portugal, quando se estuda teatro parece que é fora do normal. Perguntam-me sempre se tenho ‘plano b’ e eu respondo: “tenho plano b, c, d…”. Tenho um objetivo, um sonho, mas se não der isto, dá aquilo, ou outra coisa qualquer. Se correr tudo mal posso sempre seguir outros caminhos.

O Porto era pequeno para si?
Boa pergunta. (silêncio) Tenho de reconhecer que sim, especialmente para a minha carreira. Só me apercebi disso depois de ter mudado. Chega-se a essa conclusão pelas oportunidades que se conseguem ter lá fora. Podia ter ido para Lisboa, mas também não me apetecia. Optei por sair, conhecer outros locais, ir viver sozinha, estudar, viajar.

Teatro ou cinema?
Gosto imenso de teatro, sobretudo de musicais. Gostava também bastante de fazer cinema, conhecer toda a atmosfera dos bastidores. Já tive num ‘set’ de filmagem (local onde os filmes são gravados), mas nunca em frente às câmaras. Gostei imenso dessa experiência, das câmaras, repetições, direção artística.

Fui para França trabalhar na restauração

Como correu a experiência em Londres?
Acabei o curso em plena pandemia, o que foi péssimo, porque as regalias que se têm com isso – apresentações a agências, espetáculo do final de ano – não existiram. Por isso, fui para França trabalhar na restauração. Uma boa experiência, em termos financeiros, mas não é isso que quero fazer. Entretanto, vou voltar a Londres para recomeçar tudo de novo. Tenho imensas ideias do que quero fazer. Pode até passar por uma pós-graduação. Vamos ver.

Ir, ficar e não voltar?
Para já, sim. Se voltar será bastante mais tarde. Estou convencida que se viesse, agora, para Portugal não teria dificuldade em encontrar trabalho. Para mais tarde, já pensei na possibilidade de vir a constituir uma empresa de ensino de teatro às crianças e também dar aulas de inglês.