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Inéditos de Aurélia e Sofia de Sousa deixam de ser segredo familiar e transformam-se em tesouro público

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Margarida Medeiros tinha em casa um autêntico tesouro: 12 obras inéditas de Aurélia de Sousa e da irmã Sofia, herança de família, pelos laços que a unem a duas das maiores artistas plásticas nacionais. Sem querer guardá-lo como segredo, o Município do Porto adquiriu os quadros e vai, agora, oferecê-los à cidade na Casa Marta Ortigão Sampaio. Naquele que foi o lar da ainda sobrinha de Aurélia e Sofia, poderá viver, no futuro, um núcleo do Museu do Porto dedicado às mulheres artistas portuenses.

Uma das obras mais pequenas é, na verdade, um quadro duplo. Uma espécie de segredo guardado que retrata uma paisagem com a Ponte Dona Maria em destaque. Juntam-se-lhe outras sete pinturas e quatro desenhos de retrato, pintados pelas irmãs entre 1895 e 1924.

Além da paisagem, da Quinta da China, onde viveram, "o carácter e o património do Porto estão profundamente representados nestas obras", refere o diretor do Museu, durante a apresentação dos quadros, na manhã desta sexta-feira.

Por outro lado, acrescenta Jorge Sobrado, "há, também, o espírito. O espírito rebelde destas mulheres [que] representa o carácter rebelde do Porto". "Essa marca, esse temperamento, essa força que precisamos de manter vivos", sublinha, sobre as duas pintoras que "sofreram o preconceito do papel das mulheres nas artes, mas venceram-no".

Para o diretor do Museu, "esta aquisição representa um renovado compromisso do Município em valorizar as suas coleções, em valorizar estas mulheres artistas, profundamente marcantes, e até transformadoras, da cena artística portuguesa".

As obras estão avaliadas por especialistas e vão ser alvo de limpeza antes de serem mostradas ao público, nas mesmas paredes onde o Museu do Porto já expõe "Para Aurélia: Desenhos de Fuga".

Jorge Sobrado sublinha como esta é "a primeira aquisição pública municipal de uma grande pintora, Sofia de Sousa, que está a ser redescoberta, neste momento, na cena da investigação da História de Arte em Portugal". Daí a oportunidade e o simbolismo.

O diretor confirma a vontade de transformar a Casa Marta Ortigão Sampaio no Museu Aurélia e Sofia de Sousa, apostando na dimensão programática do espaço.

E o presidente da Câmara concorda: "É uma homenagem justa e acho que Marta Ortigão Sampaio, que foi quem doou este espólio e esta casa, um acervo muito importante para a cidade, ficaria muito contente por nós o fazermos", assume Rui Moreira.

O autarca considera que Aurélia "teve uma vida curiosa e é uma pintora completamente avant-garde para o seu tempo", tendo "vindo a ser bem tratada pela cidade do Porto" e, por isso, poder adquirir estas 12 obras inéditas faz deste "um dia muito feliz".

"Sabemos que, na cidade, há muitas coleções privadas que têm Aurélia de Sousa. Neste caso, tratava-se da família, que não queria vender isto nos circuitos comerciais e não tinha possibilidade de ter tudo em casa", conta Rui Moreira.

Emocionada, Margarida Medeiros, a sobrinha neta de uma prima de Marta Ortigão Sampaio, admite que ver os quadros de Aurélia e Sofia de Sousa entregues ao cuidado do Museu do Porto "é um viajar no tempo e estou muito contente que esteja aqui representado um bocado da minha vida".