Urbanismo

Matadouro entra em modo cultura para ancorar metamorfose de Campanhã

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"O Matadouro é a cidade que nós queremos. Aqui encontro tudo: encontro a cultura, a coesão e a economia". Por entre as paredes feitas de memória e a construção de raiz, Campanhã assiste a um novo destino, traçado por um investimento de 40 milhões de euros, uma estratégia de revitalização e um plano efetivo de vencer barreiras para construir cidade onde ela procura formas de crescer.

Numa visita ao espaço na manhã desta quinta-feira, acompanhado do arquiteto que assina o projeto, o japonês Kengo Kuma, o presidente da Câmara do Porto lembrou que a reconversão do antigo Matadouro é um trabalho que "temos vindo a fazer com as comunidades, para que compreendam que aqui não é apenas um espaço de memória. Que vai ser um espaço onde vão estar pessoas a trabalhar, onde podem ter atividades comunitárias, onde vai haver atividades culturais".

Um espaço aberto a todos, de fruição, "uma nova rua da cidade" também. "As pessoas que hoje vivem na Corujeira e que querem apanhar o metro, vão deixar de ter de fazer um percurso infernal, por baixo de viadutos, e vão poder partilhar este espaço", considera Rui Moreira.

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Reforçando que "este é um sítio onde é preciso fazer cidade", o presidente lembrou como "havia aqui um sentimento, nestas pessoas, de desespero, de abandono" e que o que vem sendo feito, através de intervenções como esta, mas também com o Parque Oriental, a aquisição dos terrenos da STCP em São Roque, a reabilitação do Cerco ou a requalificação da Praça da Corujeira, é "fazer com que as pessoas acreditem que há um futuro para este território".

“Este é o projeto-âncora, não apenas para Campanhã, mas de um projeto político que parecia um pouco improvável", sublinha, não esquecendo como o edifício "esteve para ser demolido", para ali nascer uma "China Town".

No início de 2026 estará a funcionar plenamente, cumprindo as nossas expetativas”.

De uma área total de 26 mil metros quadrados, 20.500 serão edificados. Para os oito mil metros quadrados que vai assumir, a autarquia vai levar a extensão da Galeria Municipal; uma extensão do Museu das Convergências, onde vai ser depositada a coleção particular de Távora Sequeira Pinto; um acervo e depósito de obras de arte; um espaço educativo e outro de cultura e práticas sociais; além de uma área para os ateliers municipais.

"E ainda conseguimos pegar na nossa percentagem da área e colocar a nova esquadra da Polícia [de Segurança Pública], desenvolvida com o Ministério da Administração Interna]", sublinha Rui Moreira.

Com o término das obras a apontar para o final do ano, o presidente da Câmara perspetiva outros "12 a 15 meses para ter a Galeria e o Museu a funcionar". "Podemos dizer que no início de 2026 estará a funcionar plenamente, cumprindo as nossas expetativas", afirma Rui Moreira.

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Os restantes 12.500 metros quadrados de equipamentos serão para exploração da Mota-Engil, a empresa que venceu o concurso público de reconversão do antigo Matadouro, onde serão instalados escritórios com capacidade para receber até 1.600 pessoas e espaços comerciais e de restauração.

Os 40 milhões de euros de investimento, suportados pela empresa, incluem um período de exploração de 30 anos, findo o qual todo o espaço regressa à mão do Município.

Apenas a construção da passagem superior que fará a ligação ao outro lado da VCI será desenvolvida ao longo de 2025, dada a necessidade de reforço do muro de apoio. Com acesso para peões e bicicletas, faz parte de um percurso interno, de caráter público, que vai permitir a circulação entre a Rua de São Roque da Lameira e a estação de Metro do Dragão e respetivo parque de estacionamento e contempla a construção de um novo edifício.

[Tentámos] oferecer um novo entusiasmo à cidade”.

Do Estádio Olímpico de Tóquio para Campanhã, o arquiteto responsável pelo projeto assumiu a missão de intervir "numa parte da cidade que é uma espécie de lugar esquecido ao qual quisemos dar um novo centro".

Kengo Kuma assume que "o maior desafio foi preservar o edifício antigo porque não é um edifício elegante, mas tentámos encontrar uma beleza nessa antiguidade" e, em sintonia com o que de novo ali está a nascer, "oferecer um novo entusiasmo à cidade".

O projeto é uma parceria do japonês com o escritório português OODA e Kengo Kuma reconhece mesmo que "há muitas semelhanças, muita natureza, muita luz natural" nas duas culturas.

Assim como a sustentabilidade, que tem orientado os trabalhos, assegurados pela GO Porto, desde o início. Nas palavras do arquiteto japonês, "preservar e usar o antigo edifício é uma abordagem muito sustentável", assim como o recurso a ventilação e luz natural, ou a utilização das telhas retiradas das coberturas demolidas e integradas no pavimento.

Quando todo este novo mundo a oriente se abrir à população, o passado de mais de 120 anos fica no que foi o Matadouro Municipal e o futuro faz-se no M-ODU.