Cultura

Mutações culturais da cidade na última década compiladas em dois livros

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As transformações de que a cidade do Porto foi alvo nos últimos dez anos deram origem à coleção “Fazer Cidade” - coeditada pelo Município e pela Tinta-da-China -, da qual fazem parte os dois livros lançados, esta quarta-feira, na Concha Acústica, nos Jardins do Palácio de Cristal.

“Teatro Municipal do Porto 2013-2023” e “Feira do Livro do Porto 2013-2023” foram as obras apresentadas ao público, num momento que contou com a participação do ex-ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, e das duas autoras. A sessão foi conduzida por Rute Dias Paiva, em representação da editora parceira. O presidente da Câmara, Rui Moreira, foi um dos convidados que assistiu à apresentação.

Depois de dois anos a nortear a pasta da Cultura no anterior Governo, Pedro Adão e Silva não tem dúvidas: “O caso do Porto, na cultura, é um caso mesmo singular e que contrasta, por bons motivos, com o resto do país”.

Na apresentação dos livros que integram a coleção “Fazer Cidade” – composta por mais obras que ainda estão em desenvolvimento –, o ex-ministro elogiou a “ideia de responsabilidade partilhada” que o Município tem adotado relativamente à política cultural, defendendo que esta matéria não deve apenas ser tutelada pela administração central.

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Numa reflexão sobre o que observou enquanto governante, Pedro Adão e Silva concluiu que “há autarquias onde o compromisso com a cultura é maior”, como “é o caso do Porto”, o que na sua ótica muito se deve ao facto “de o presidente da Câmara ser também o vereador da Cultura”.

O Porto é mesmo um caso raro no investimento da cultura

Usando a palavra “legado” para descrever o que tem sido feito pelo Município, o antigo responsável pela cultura nacional saudou a iniciativa que colocou em marcha a coleção “Fazer Cidade”, por considerar que permite “promover a reflexão e estimular uma coisa que é fundamental: garantir que não há descontinuidades e ruturas entre mandatos sucessivos”.

“O Porto é mesmo um caso raro no investimento da cultura”, assinalou Pedro Adão e Silva, ao recordar o “crivo” deixado por Paulo Cunha e Silva na herança cultural do atual Executivo.

Como grande destaque, o ex-ministro distinguiu “o resgate do Rivoli”, um dos pólos do Teatro Municipal do Porto, que serviu de bússola à obra assinada por Helena Teixeira da Silva.

Em linha com o que foi dito por Pedro Adão e Silva, a autora do livro “Teatro Municipal do Porto 2013-2023”, primeiro da coleção “Fazer Cidade”, reiterou que o atual Executivo trouxe novamente o Rivoli para a cidade, criando “um programa cultural ultrademocrático”.

E explicou: “Ser ultrademocrático é permitir a uma cidade ter acesso a tudo o que existe no mundo inteiro. E o que aconteceu nestes 10 anos foi isso, tudo o que aconteceu no mundo inteiro passou por aqui”, expôs Helena Teixeira da Silva, perante centenas de convidados.

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“O que aconteceu nestes 10 anos na cidade do Porto é um caso de estudo. É uma cidade que se transformou e transformou a vida das pessoas através daquilo que fez, sobretudo através da cultura”, defendeu ainda a antiga jornalista, sustentando que “não há nenhuma cidade que se tenha emancipado tanto do poder central como o Porto”.

Não é possível construir futuros sem a preservação da memória

Colocando em perspetiva o que foi alicerçado na última década, a escritora recordou que as pessoas tiveram a oportunidade de assistir “a teatro e dança contemporânea a dois euros e a três euros”, o que não poderia acontecer sem um investimento tão relevante no âmbito cultural.

E porque “não é possível construir futuros sem a preservação da memória”, os dois livros agora lançados representam ainda “uma homenagem ao jornalismo”, referiu Helena Teixeira da Silva, ao contar que o processo de produção da obra resultou de “um exercício muito exaustivo de lamber jornais de 10 anos”.

A compilação de conteúdos e a análise de notícias sobre a última década foi um trabalho feito também por Filipa Vaz Teixeira, autora do segundo livro da coleção “Fazer Cidade”.

A obra “Feira do Livro do Porto 2013-2023” – que celebra os livros numa cidade de livreiros, editores e alfarrabistas – não poderia ser lançada com maior pertinência, uma vez que foi apresentada, precisamente, no local onde decorre o festival literário de 2024.

A Feira do Livro, de facto, está inscrita no ADN da cidade

Este é o evento que remete a autora portuense para a infância, trazendo-lhe memórias que fez questão de transladar para o livro. Para Filipa Vaz Teixeira, esta é uma forma de, “com algum distanciamento, olharmos para o que era o Porto em 2013 e o que é o Porto agora, para daqui para a frente acrescentarmos valor ao que foi feito”.

A autora lembra que “desde pequenina” frequenta a Feira do Livro do Porto, mas assinala com “tristeza” o facto de, em 2013, o evento não se ter realizado. “É uma lembrança que ainda está muito presente. E o facto de ter essa lembrança presente fez-me querer agarrar neste projeto com um entusiasmo redobrado”.

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Para que a cidade não volte a ficar órfã deste grande evento cultural, Filipa Vaz Teixeira aceitou colocar mãos à obra, eternizando num livro tudo aquilo que o festival literário representa para a Invicta. “A Feira do Livro, de facto, está inscrita no ADN da cidade”.

Durante o processo de escrita, a autora admitiu que falou “com várias pessoas, de várias gerações, de várias áreas, pessoas mais críticas, pessoas mais elogiosas", notando que havia sempre um ponto em comum: "todas elogiavam este recinto como o recinto de eleição da Feira do Livro do Porto”.

“É quase impensável, neste momento, nós imaginarmos a Feira do Livro noutro sítio”, rematou Filipa Vaz Teixeira, referindo-se aos Jardins do Palácio de Cristal, que, por estes, dias estão assoberbados com uma programação cultural transversal dedicada à vida e obra do poeta Eugénio de Andrade.