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Porto vai ter “laboratório vivo” para descarbonizar a cidade

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Filipa Brito

O projeto “Asprela + Sustentável” vai permitir criar a primeira comunidade energética renovável da região, entre outras soluções inovadoras que contribuem para a meta das emissões zero.

Vai ser criado no Porto um “laboratório vivo” – espaço para o teste de serviços e tecnologias inovadoras – destinado a auxiliar a cidade a mitigar as alterações climáticas e a alcançar a neutralidade carbónica com que se comprometeu até 2050. O projeto chama-se “Asprela + Sustentável” e foi aprovado, com a classificação mais elevada dos projetos a concurso, no âmbito do programa “Ambiente, Alterações Climáticas e Economia de Baixo Carbono”, promovido pelo EEA Grants.

Este “living lab”, instalado na zona da Asprela, em Paranhos, vai permitir criar, de forma disruptiva, a primeira comunidade energética renovável do Porto em torno da energia solar. Desta forma, a cidade pretende liderar nesta matéria, afirmando, desde já, a sua ambição. Entre os objetivos a atingir, contam-se, também, a promoção da mobilidade elétrica sustentável, o combate à pobreza energética, o incentivo ao consumo de energias limpas e a transição para um modelo de economia circular.

Financiado no valor de 1 milhão de euros, o programa vem complementar os compromissos já assumidos pelo Porto no combate às alterações climáticas, mas também antecipar alguns projetos previstos no Roadmap para a Economia Circular, ao nível do sistema alimentar e da extensão da vida útil do material informático.

“Este é um projeto criativo, inovador e abrangente, que demonstra bem a ambição do Porto em participar ativamente na transição energética e na descarbonização da cidade e da região, contribuindo para objetivos globais de sustentabilidade, procurando e disseminando as boas práticas, num momento em que os municípios não poderão mais adiar a sua participação ativa na transição energética”, sublinha o vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo.

Recorde-se que a cidade tem já implementadas diversas medidas no campo da sustentabilidade energética, tais como o consumo de energia 100% renovável pelo município, a existência de uma frota municipal com cerca de 70% de veículos elétricos/híbridos plugin ou a promoção da eficiência energética na habitação social. Em 2020, foi igualmente assinado um protocolo entre a Câmara do Porto, a AdEPorto - Agência de Energia do Porto e a EDP Distribuição (agora E-Redes) para a criação de um acelerador para a transição energética na região.

Para os resultados alcançados pelo projeto, cujo prazo de execução é de três anos, vai ser criada a plataforma Hub Virtual “Asprela +++”. O sistema vai permitir recolher dados sobre os impactos conseguidos com as medidas implementadas, como por exemplo a redução de emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE), nomeadamente nos setores dos transportes e edifícios, e sobre a qualidade do ar e da água. Prevê-se ainda, a partilha da informação gerada junto dos decisores políticos e da população. O conjunto de indicadores recolhidos pretende, ainda, propiciar a análise de modelos de negócio que permitam, em conjunto com o ecossistema empreendedor do Porto, acelerar o desenvolvimento de projetos para a sustentabilidade energética.

O consórcio do “Asprela + Sustentável” é liderado pela Coopérnico - Cooperativa de Desenvolvimento Sustentável C.R.L. A coordenação técnica cabe à AdEPorto - Agência de Energia do Porto, em estreita colaboração com o Município do Porto e restantes parceiros, nomeadamente Associação Porto Digital, empresas municipais Porto Ambiente e Águas e Energia do Porto, INEGI, EFACEC Electric Mobility, EFACEC Energia, INESC-TEC, VPS, EVIO, a Federação Académica do Porto e International Development Norway.

Laboratório de integração tecnológica

O projeto recebe o contributo de parceiros tecnológicos, desde a indústria a instituições interface I&D, de base nacional e relevo internacional, que em conjunto irão contribuir para o desenvolvimento das soluções a implementar, testar e replicar.

Entre as medidas a implementar está a criação da primeira Comunidade de Energia Renovável (CER) da cidade do Porto. A CER será desenvolvida entre as habitações das mais de 180 famílias do Bairro de Agra do Amial e a Escola Básica da Agra, e contará com a instalação de dois sistemas fotovoltaicos distintos, um em cada local. Estes sistemas destinam-se, primariamente, a fornecer energia elétrica aos edifícios que os albergam num modelo de autoconsumo. A energia elétrica excedente, por seu turno, vai ser destinada a sistemas de armazenamento de energia elétrica e para a instalação de carregadores de veículos elétricos de utilização pública.

Neste âmbito, vão ser também testadas baterias 2nd life, como mais uma forma de contribuir para uma economia cada vez mais circular. De acordo com os promotores do projeto “Asprela + Sustentável”, pretende-se assim “um funcionamento otimizado que privilegie o máximo aproveitamento da energia elétrica de base solar de forma local, permitindo gerar ganhos para todos os utilizadores”.

Adicionalmente, serão desenvolvidas ações dirigidas à mitigação da pobreza energética, numa primeira fase através do levantamento de indicadores relacionados. Também na EB1 da Agra vai ser integrado um sistema que permitirá a gamificação (uso de mecânicas e dinâmicas de jogos que propiciam o engajamento), através da gestão e monitorização do desempenho da central fotovoltaica, como mais um elemento de envolvimento da comunidade.

Da energia à água e alimentação

De entre as 18 medidas inovadoras a implementar, o “Asprela + Sustentável” incorpora também outras vertentes como o ciclo da água, através da monitorização e controlo da água das ribeiras do futuro Parque Central da Asprela, atualmente em construção. Esta monitorização e controlo permitirá, entre outras coisas, a adaptação da bacia hidrográfica face aos efeitos das alterações climáticas já esperadas, aumentando a resiliência da cidade.

Serão também desenvolvidos “Good Food Hubs”, iniciativas que consistem em prestar à comunidade informação, experiências e alimentos mais sustentáveis (fornecidos por produtores e associações que cumpram determinados requisitos de sustentabilidade).

Destaque ainda para o programa REBOOT, de reciclagem e partilha de computadores, que criará momentos de reparação de equipamentos eletrónicos, de forma a prolongar a sua vida útil, ao mesmo tempo que promove a formação dos participantes nesta área. Estes equipamentos serão doados a crianças de famílias em condições socioeconómicas vulneráveis.

A Asprela representa a área com maior concentração de conhecimento produzido no Porto e, por isso, reúne o potencial humano, e tecnológico, para o desenvolvimento do “Asprela + Sustentável”. Entre estudantes, investigadores, docentes universitários, médicos, enfermeiros e profissionais ligados à Tecnologia e Inovação, utilizam a zona da Asprela cerca de 60.000 pessoas por dia.