Ambiente

Universidade do Porto estuda estratégias verdes para proteger a vinha das alterações climáticas

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Miguel Nogueira

A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) lidera um projeto de estudo de “estratégias verdes” para mitigar os efeitos das alterações climáticas no setor vitivinícola.

O “VineProtect” apresenta uma visão disruptiva e transpõe para a agricultura, neste caso a viticultura, o que já é feito na medicina: encarar o microbioma como parte estruturante da planta, tal como ouvimos falar do microbioma intestinal e da sua importância para a saúde humana.

Os investigadores do iB2 — ​Integrative Biology and Biotechnology Laboratory pretendem desenvolver soluções à base de fungos vivos para combater outros fungos e doenças comuns na vinha e também criar um bio-hidrogel a partir de resíduos da poda.

O projeto é financiado pelo PRIMA, um programa da União Europeia para a investigação e inovação em soluções para a região mediterrânica, e terminará em 2025, com trabalhos de campo e de laboratório a decorrer em Portugal, Itália, Turquia e Marrocos.

Em Portugal, para além de uma equipa de cientistas e docentes da FCUP, o consórcio conta com investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Conceição Santos, docente da FCUP e líder do VineProtect explica, em declarações no site de notícias da Universidade do Porto, que o projeto incide sobretudo nas vinhas da região do Douro, uma vez que estão muito ameaçadas pelas alterações climáticas.

De uma forma global, o VineProtect quer encontrar estratégias para mitigar o impacto da crise climática na vinha, nomeadamente ao nível da diminuição da precipitação, o aumento da temperatura e o aumento da incidência de patógenos.

“Pretendemos apostar na proteção sustentável das doenças da vinha, na caraterização do património genético do microbioma da região e em melhorar a gestão sustentável do solo”, refere a investigadora.

Múltiplas soluções para vários países

Cada país do consórcio terá a sua própria coleção de bactérias – bactérias nativas – e, no caso português, alguns destes microrganismos já foram isolados em trabalho de campo. Atualmente, estão a ser selecionados, em laboratório, os que possam ser “mais interessantes” em viticultura, ou seja, os que possam ser “plant-growth promoters” e promovam o crescimento e desenvolvimento das videiras. Paralelamente, o foco está também no estudo e na utilização de plantas fixadoras de azoto – como as leguminosas – como cobertura de solo. Desta forma, os investigadores querem chegar a uma solução que permita à planta produzir mais utilizando menos água, um recurso que cada vez vai ser mais escasso. Estas plantas podem ajudar o solo a reter água e tornar mais eficiente a nutrição das videiras.

Da Turquia, por exemplo, chegará uma outra estratégia sustentável: um bio-hidrogel a partir de resíduos da poda. Esta formulação será aplicada nas vinhas do Douro. Espera-se que estes bio-hidrogéis aumentem a retenção de água no solo ao absorver a que vem das chuvas ou via irrigação. A ideia é aproveitar um recurso numa lógica de economia circular, utilizando resíduos que, de outra forma, teriam de ser eliminados.

União Europeia cria rede de investigação dedicada ao tema

O projeto demonstra uma visão de tal forma inovadora que levou a União Europeia a financiar uma Acção COST, que será coordenada a partir de Portugal, precisamente por Conceição Santos, do iB2 Lab. As Acções COST são redes de investigação e inovação que se dedicam a temas específicos durante quatro anos (o apoio é por esse período). Esta vai chamar-se CropBiomes e arrancará em outubro, envolvendo investigadores de 20 países.