Sociedade

A "propaganda" veio para ficar... e o jornalismo também

  • Paulo Alexandre Neves

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Uma professora universitária, Felisbela Lopes, um jornalista, Carlos Daniel, um professor universitário e chefe de gabinete do presidente da Câmara do Porto, Vasco Ribeiro, e um fundador de uma empresa de comunicação e atual comentador, Luís Paixão Martins. A uni-los a apresentação, no Porto, da edição especial de um clássico do marketing político – "Propaganda", de Edward Bernays.

"Dois dedos de conversas" foi, assim, que Luís Paixão Martins definiu, no seu Facebook, o que se iria passar, umas horas mais tarde (ao final da tarde desta quarta-feira), no salão nobre da reitoria da Universidade do Porto. Uma conversa sob os caminhos históricos e atuais da propaganda, mas também do jornalismo e do entrelaçar (ou não) dos dois, sob a presença do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, do vice-presidente, Filipe Araújo, da vereadora da Juventude, Catarina Araújo, e de muitos convidados.

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O fundador da LPM Comunicação e o atual chefe de gabinete da presidência da Câmara Municipal do Porto abalançaram-se na publicação, sob a chancela da Zigurate, de Carlos Vaz Marques, de uma edição comentada e contextualizada da obra daquele que é conhecido como o "pai das relações públicas".

"Propagandista me confesso e não há mal nenhum nisso", afirmou Vasco Ribeiro, secundado por Luís Paixão Martins, que, usando um tom mais humorístico, adiantou que "se Bernays fosse um país, eu seria cônsul desse país, em Lisboa, e Vasco Ribeiro cônsul no Porto".

Na perspetiva do chefe de gabinete, "nas assinaturas, os diretores de comunicação deveriam acrescentar, em letras mais pequenas, 'propagandista'".

"Atualmente, informação e propaganda aparecem misturadas"

Como profundo conhecedor da obra do "profeta dos propagandistas", aquele que é considerado também o guru da comunicação em Portugal – "apesar da lenda, sou um péssimo 'marqueteiro'", disse – abordou o livro, sublinhando que estava ali para "declarar o óbito de Bernays. Vive no purgatório das relações públicas".

"Atualmente, informação e propaganda aparecem misturadas. É um desafio enorme. Era preciso um novo Bernays para descrever o que está a acontecer", acrescentou Luís Paixão Martins, que organizou e traduziu a obra do especialista austro-americano. Para além disso escreve um ensaio inicial, a que deu o título de "A história iluminada do guru que deu lume às feministas".

Já Vasco Ribeiro, que nesta edição especial escreve um posfácio ("Press agentes e publicists: os primeiros profissionais da propaganda"), acredita que, quando se fala em propaganda, "as pessoas ficam incomodadas. Até ao século XIX entendia-se esta área como de propagação da fé".

Atualmente, para o professor universitário e chefe de gabinete do presidente da Câmara do Porto, "a propaganda está, muitas vezes, ao serviço de campanhas negativas. Depende do conteúdo que lá colocamos. Ela é uma orquestra da persuasão porque, afinal, o propagandista não tem interesses públicos, como acontece com os jornalistas", acrescentou.

A propaganda está, muitas vezes, ao serviço de campanhas negativas

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Propaganda e jornalismo pairou, naturalmente, nos "dois dedos de conversa" entre os membros da mesa-redonda. Para o jornalista da RTP, Carlos Daniel, "do lado do jornalismo há sempre os complexos éticos". Mas, "neste livro entusiasmante", há "capacidade, por parte do autor, de tocar várias dimensões, incluindo a necessidade de consolidar a democracia".

Já para a professora universitária Felisbela Lopes, "Edward Bernays está muito à frente do seu tempo. Ainda assim, não é consensual".

Longe vai o tempo em que Bernays protagonizou uma das suas campanhas publicitárias mais famosas: a promoção da indústria do tabaco com um desfile feminista (forjado) em Nova Iorque e que ficou conhecido com a "Tocha da Liberdade". Um mote para conclusão dos palestrantes de que, hoje em dia, "o jornalismo é feito de causas".

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