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Compromisso da cidade com a reciclagem dá mais eficiência à Somos Nós

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Cerca de duas mil famílias separaram o lixo, o Município do Porto e a Lipor recolheram e reciclaram e agora é o benefício financeiro – aliado ao ambiental – que permite ajudar a melhorar o trabalho da Somos Nós, uma associação que promove a autonomia e a integração de pessoas com deficiência mental. O programa “Reciclar é Dar+” angariou cerca de 7.500 euros que já transformaram o refeitório e o polivalente do Centro de Atividades Ocupacionais, paredes meias com o Parque da Pasteleira.

“Comprava as nossas alfaces, senhor vice-presidente?” A pergunta é feita por Ismael que, aos 53 anos, tanto se ocupa da horta como do jornal da associação. É um dos 30 utentes da Somos Nós que, há 15 anos, se dedica a proporcionar uma vida mais autónoma a pessoas “menos eficientes” a partir do momento em que deixam de ter o acompanhamento escolar.

Na manhã desta sexta-feira, a Somos Nós recebeu a visita do vice-presidente da Câmara do Porto, dos administradores da Porto Ambiente e de representantes da Lipor, que foram ver na prática em que se traduz o donativo resultante do programa “Reciclar é Dar +”.

“Temos cerca de duas mil famílias que aderiram [à recolha seletiva porta-a-aporta] e que têm, ao longo destes anos, vindo a contribuir para a reciclagem, na deposição em contentores próprios, que são recolhidos seletivamente em dias diferentes da semana”, explica Filipe Araújo, ressalvando que, na verdade, “são estas duas mil famílias que estão a doar a uma associação com a importância da Somos Nós”. Recorde-se que, de 2016 a 2019, o Porto aumentou em 50% os níveis de reciclagem, e que, só em 2020, a Lipor recebeu mais de 60 mil toneladas de materiais para reciclagem.

Também responsável pelo Ambiente e Transição Climática, o vice-presidente sublinha dois aspetos essenciais: o ambiental e o social. “ E este projeto junta estas duas vertentes”, afirma.

Depois de ficar a conhecer o espaço e as pessoas que dele usufruem – e que dele cuidam – Filipe Araújo não tem dúvidas que “a associação tem aqui um trabalho de excelência naquilo que é toda a componente social, com todo o cuidado e boa gestão que faz, e que incorpora uma área que me diz muito que é a área ambiental”.

“Acaba por ser um fecho de ciclo muito interessante”, nota Filipe Araújo, uma vez que “hoje falámos das pessoas que, aqui à volta, fazem reciclagem e se preocupam com o ambiente, até à associação que foi beneficiada por eles e também tem essas preocupações”.

Recolher, plantar e voltar a colher

O Centro de Atividades Ocupacionais foi erguido num terreno cedido pela autarquia e é ali que os utentes desenvolvem atividades desde a informática à culinária, mas há também aqueles que “têm realmente uma apetência, uma vocação, um gosto especial pela horta e pelo jardim”, garante a vice-presidente da associação, Filomena Costa.

“Semear, ver crescer, apanhar e depois comer e saborear faz parte da aprendizagem global que fazemos com eles”, partilha a responsável por um projeto que “teve sempre, desde o primeiro momento, o apoio da Câmara do Porto”.

A parceria entre a autarquia e a Lipor, reforça Filomena Costa, permitiu à Somos Nós terminar “um projeto que já tínhamos há muito tempo mas não tínhamos verba para concretizar”, mas tem-se também materializado em ações de formação ou no fornecimento de adubo para os trabalhos dos utentes na horta pedagógica.

“São apoios importantes até porque, de certa forma, é o reconhecimento de que o trabalho que estamos a fazer é um trabalho que faz sentido e que é preciso ser feito”, acredita a vice-presidente da associação.

Para lá do centro, os olhos pousam no terreno, igualmente cedido pela Câmara do Porto, onde serão erguidas seis residências para 30 pessoas com deficiência mental – não necessariamente utentes da associação – que ali poderão viver “com grande espírito de autonomia” (sempre com a supervisão de um técnico) e onde “cada casa poderá funcionar um pouco como uma pequena família”, acredita Filomena Costa.

E as questões ambientais sempre presentes. A vice-presidente da Somos Nós garante que “em todo o conceito para o espaço exterior vamos ter a preocupação de que seja também cuidado por nós e que tenha essas preocupações de sustentabilidade”.

No centro, nas residências, mas também na sociedade, Somos Nós (é) a consciência – e a prova – de uma maior inclusão, autonomia e sustentabilidade. E continua a dar frutos.