Política

Deputados municipais apontam falhas e exigem à Metro correção no rumo das obras

  • Paulo Alexandre Neves

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Todos os grupos parlamentares representados na Assembleia Municipal (AM) estão de acordo que é necessário, por parte da Metro do Porto, uma "correção no rumo" das obras em curso - metrobus (BRT) e construção das linhas Rosa e Rubi. As críticas são muitas – desde o modelo de gestão aos prazos estipulados – ainda que deixem bem claro que elas são necessárias para o futuro da mobilidade na cidade.

"Tem havido um crescente e manifesto desconforto dos que habitam na cidade, dos que fazem dela o seu modo de vida diário e dos que têm atividades económicas, relativamente às obras [da Metro]", sublinhou o presidente da Assembleia da Municipal, esta segunda-feira, durante apresentação das conclusões sobre o levantamento concretizado às obras da Metro do Porto por parte do Grupo de Trabalho para Acompanhamento de Investimentos de Transporte Público da Assembleia Municipal.

O grupo, criado em fevereiro, por deliberação daquele órgão autárquico, e onde estão representados todas as forças políticas eleitas (o representante do Chega não esteve presente nesta conferência de imprensa), critica o modelo de gestão e da relação com a cidade estabelecida pela empresa de transporte, quer em relação às obras, quer aos timings de execução, que, em alguns casos, já resvalaram para 700 dias de atraso.

Desde fevereiro, o grupo produziu três relatórios, com solicitação de informações à Metro sobre o metrobus e linha Rosa. A empresa respondeu… esta segunda-feira, horas antes da conferência de imprensa do grupo de trabalho. "Esperamos que tenha sido uma consequência desta conferência [de imprensa]", afirmou Sebastião Feyo de Azevedo.

Secundado por todas as forças políticas, o presidente da AM garantiu que "esta não é forma de trabalhar em obras desta dimensão, numa cidade ativa e dinâmica como é o Porto". "Isto não é um condomínio fechado em que se está a fazer um grande prédio lá dentro. As obras têm avançado com continuado deslizar dos prazos, com grave prejuízo para todos os munícipes, para a cidade como um todo e, muito em particular, para as atividades económicas”, acrescentou.

Esta não é forma de trabalhar em obras desta dimensão, numa cidade ativa e dinâmica como é o Porto

Os deputados municipais mostram-se, por isso, preocupados com "o conforto e segurança dos cidadãos", os "elevados prejuízos para as atividades económicas", o "incumprimento de prazos" e, em especial, "uma grande falta de informação e alguma dela errada", por parte da Metro. "Respondem, por exemplo, sobre o modelo de gestão de obra, que me parece pouco convincente", frisou Sebastião Feyo de Azevedo.

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Partidos unânimes nas críticas à gestão de obras

Deixando bem claro que em causa não está a construção do metrobus e das novas linhas Rosa e Rubi do metro, todos os partidos com representação parlamentar secundaram as ideias deixadas pelo presidente da Assembleia Municipal.

"Há um acumulado de atrasos e um incompreensível, diria quase desprezo, pela vida das pessoas, na forma como é comunicado todo o processo de obras. Não podemos esperar que as pessoas adiram, compreendam ou gostem daquilo que não conhecem", afirmou o líder do Movimento "Rui Moreira: Aqui Há Porto".

Para Raul Almeida, "a vida dos portuenses foi terrivelmente afetada sem que a Metro tenha o cuidado de lhes explicar porquê e o que vem a seguir". "Isto é feito com um deslizar permanente de prazos, revisto sempre em prejuízo das pessoas e das pessoas, que não nos oferecem qualquer tipo de confiabilidade", sublinhou.

"As cidades têm de fazer sacrifícios, mas não podemos tê-los, sendo desrespeitados e desconsiderados. Parece-me profundamente negativo o que tem sido feito até aqui. Há uma parte que não cumpre o seu compromisso com o Porto e os portuenses. Esperamos que haja uma correção de rumo", concluiu o deputado do Movimento "Rui Moreira: Aqui Há Porto".

Há uma parte que não cumpre o seu compromisso com o Porto e os portuenses

Também para o líder do grupo municipal do PS (e relator do terceiro relatório enviado à Metro, conjuntamente com o deputado do PAN, Paulo Vieira de Castro), a construção de novas vias para os meios de transporte seriam "boas dores de cabeça", mas "há atrasos consecutivos que deixam de estar enquadráveis com outros fatores (pandemia, guerra)".

"Politicamente estamos preocupados com os atrasos. Todos nós sofremos, mas há uns (com as preocupações de segurança e o futuro das atividades económicas) que sofrem mais que outros", frisou Agostinho Sousa Pinto, exortando a Metro a que tenha, nas próximas frentes de obra, "uma atitude diferente".

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Para o PSD, a conferência de imprensa é "um grito de indignação". "A Metro não ouve os portuenses, não anda na rua, não conhece os problemas das pessoas, não ouve os eleitos que falam por todos os portuenses. É uma enorme falta de respeito", afirmou o deputado social-democrata Miguel Côrte-Real.

"Não podemos mudar o passado, mas podemos julgá-lo, a quem gerou este atraso, a falta de competência. É esse o nosso papel", reforçou, garantindo: "Podemos exigir que, no futuro, haja uma seriedade diferente ao encarar este projeto e uma capacidade de trabalho diferente para conseguir cumprir calendários, prazos e compromissos".

Também para o deputado da CDU Rui Sá, que não deixou de lembrar que o grupo de trabalho foi criado por sugestão da sua bancada, "foram tomadas algumas opções estratégicas à revelia do próprio município e que temos dúvidas que sejam as melhores para a cidade (como, por exemplo, o enquadramento do metrobus na Rotunda da Boavista, a localização da ponte da linha Rubi)".

"Também do ponto de vista da execução da obra, os prazos que estão a ser avançados são mentiras. O eng. Tiago Braga [presidente do conselho de Administração da Metro] veio dizer que a linha Rosa estará em circulação em meados do próximo ano e não estará, com o estado atual das obras", afiançou Rui Sá, recordando que também o então primeiro-ministro, António Costa, veio dizer que a linha Rubi tinha de estar pronta até dezembro de 2026 e "não estará".

"Temos de falar sério ao portuenses porque tal não é possível", acrescentou o deputado da CDU.

Foram tomadas algumas opções estratégicas à revelia do próprio município e que temos dúvidas que sejam as melhores para a cidade

Para o deputado do BE Rui Nóvoa, as obras da Metro "são importantes e necessárias", pelo que a constituição de um grupo municipal de acompanhamento "foi importante, permitindo que todos ganhem consciência deste problema. Fez com que a própria Metro começasse a ter outras preocupações. Até aqui não havia qualquer tipo de informação".

"O progresso da cidade tem de ser enquadrado com as pessoas", disse Rui Nóvoa, agradecendo também à comunicação social, "porque, não tenho dúvida, que o vosso papel será imprescindível para que o problema seja resolvido".

Já o deputado do PAN Paulo Vieira de Castro focalizou as suas críticas "na falta de ciclovias", por exemplo na supressão na Avenida da Boavista, "sem que tivesse havido uma explicação concreta ou um percurso alternativo". "Na Avenida Marechal Gomes da Costa estão a tirar espaço à natureza, na Rotunda da Boavista foram cometidos alguns atropelos, com o abate de algumas árvores. Era perfeitamente escusado", acrescentou.

"Continuaremos a manter um espírito construtivo, construtivo, construtivo, mas firme e muito exigente", frisou o presidente da AM, concluindo que "todos queremos que isto corra o melhor possível, tão depressa quanto possível”.

O Grupo de Trabalho tem por objeto o acompanhamento dos investimentos de transporte público com impacto na cidade do Porto, sob a responsabilidade das empresas Metro do Porto e Infraestruturas de Portugal, estejam elas em fase de obra, de projeto ou anteprojeto.