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"Elo" entre Coliseu e Clérigos vai ouvir as histórias do Porto

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O Coliseu Porto Ageas e a Irmandade dos Clérigos unem-se, pela primeira vez, para a criação de "Elo", um novo projeto social e inclusivo que une cultura e educação. O projeto inicia-se em outubro e termina a 18 de junho de 2024 com a apresentação, no palco do Coliseu, de um espetáculo criado a partir destes nove meses de atividades.

Para além de representar a ligação entre duas das maiores instituições da cidade e do país, o nome do projeto pretende simbolizar a ligação entre diferentes disciplinas artísticas (música, teatro, dança e storytelling), setores (social e educativo) e pessoas de diferentes idades e contextos sociais (público em geral, artistas, maiores de 65 anos e a comunidade prisional, desde os reclusos aos guardas prisionais que com eles trabalham).

Desenvolvido pelo novo Serviço Educativo do Coliseu, com o apoio da Irmandade dos Clérigos, "Elo" foi apresentado esta segunda-feira, em conferência de imprensa, com a presença do presidente do Coliseu, Miguel Guedes, do presidente da Irmandade dos Clérigos, padre Manuel Fernando, e Filipa Godinho, diretora do Serviço Educativo Coliseu. O projeto inicia-se em outubro e termina a 18 de junho de 2024 com a apresentação, no palco do Coliseu, de um espetáculo criado a partir destes nove meses de atividades.

Doadores de histórias

A primeira fase do projeto abre o Coliseu e a Torre e Igreja dos Clérigos a 20 visitas orientadas, para as quais serão convidados 240 adultos e seniores que integram várias associações sociais da cidade, desde lares e centros de dia a universidades seniores. Ao longo das visitas, os educadores do Coliseu vão ouvir e recolher 20 histórias e memórias vividas nestes dois espaços incontornáveis da cidade.

O ponto de partida foi já dado por Pedro Abrunhosa. O músico e compositor portuense é o primeiro doador simbólico de histórias de "Elo", partilhando uma memória especial vivida no Coliseu e outra nos Clérigos. É a partir destes "doadores de histórias" que se vai desenvolver todo o trabalho artístico, dividido em três eixos.

No teatro, vai formar-se um grupo composto por jovens de instituições sociais e com inscrições abertas para 15 jovens da cidade, com ou sem experiência em teatro. Orientado pelos atores Pedro Lamares e Carolina Rocha, entre outubro e janeiro, o grupo terá aulas de representação. De janeiro a junho, o grupo trabalhará sobre as histórias doadas, com a possível participação dos doadores, compondo a narrativa que será interpretada no palco do Coliseu.

Na dança, vai nascer também um grupo de dança inclusiva, composto por 16 participantes, orientado pela bailarina e professora de dança Eliana Campos. À semelhança do teatro, entre outubro e janeiro haverá aulas de introdução à dança atendendo às características e potencialidades de cada participante. Este é um período introdutório e experimental, tateando e preparando as ações dos meses seguintes. De janeiro a junho, o grupo começará a conduzir o seu trabalho com vista à criação do espetáculo, ora participando na narrativa geral, ora interpretando histórias, ora intersectando o guião do grupo de teatro.

A música terá uma forte presença, em dois territórios diferentes: uma escola TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária), Agrupamento de Escolas Pêro Vaz de Caminha, e o Estabelecimento Prisional do Porto, em Custóias. Em ambos, os 40 participantes, orientados pelo músico António Serginho (Daguida, Retimbrar), vão aprender a produzir música recorrendo aos seus talentos e vontades, ora através do corpo ora de instrumentos musicais e voz.

Mais de dois mil participantes

À semelhança dos outros dois eixos, também aqui os grupos terão acesso às histórias selecionadas, inspirando-se nelas para trabalhar narrativas que se irão interligar às demais áreas artísticas. Estes grupos irão a palco, ora presencialmente (nos casos em que tal for possível), ora através de vídeo, sendo captadas e editadas imagens e som com o objetivo de se integrarem no espetáculo final.

Quer na escola, quer no estabelecimento prisional, as turmas serão compostas por alunos e comunidade envolvente, sendo o grupo escolar composto por alunos, pais, professores e auxiliares, e o grupo do Estabelecimento Prisional de Custóias composto por reclusos, guardas, professores e técnicos superiores de reeducação.

Ao todo, serão abrangidas pelo projeto cerca de duas mil pessoas. A apresentação final no Coliseu transporta em si uma simbologia e significado que são a força essencial do projeto: todos serão conduzidos e apoiados num grande trabalho em rede que culminará na elevação ao palco numa das mais icónicas salas de espetáculo do país. As inscrições para participar nos grupos de teatro e dança inclusiva abrem esta semana, em educativo.coliseu.pt.

"Com esta parceria, as duas torres da cidade, a do Coliseu e a dos Clérigos, unem-se num elo afetivo, mostrando como as instituições culturais e sociais podem e devem trabalhar em rede", disse Miguel Guedes, presidente da Associação Amigos do Coliseu do Porto, acrescentando: "O Serviço Educativo do Coliseu nasceu este ano para alimentar ainda mais este desejo de unir cultura e educação, sedimentando a sua ligação à cidade e às pessoas que a habitam".

"'‘Elo' é um projeto artístico e pedagógico extraordinário, um trabalho inovador em prol de pessoas de todas as idades e de diferentes contextos sociais", sublinhou o padre Manuel Fernando. "Queremos despertar sorrisos nos jovens, na população prisional e nos mais idosos, mostrando-lhes que podem, e que têm dentro de si, qualidades excecionais. Acreditamos que esta iniciativa pioneira em que a Irmandade dos Clérigos e o Coliseu se uniram para melhorar as condições de vida da nossa população será uma mais-valia para o Porto, e, por que não, para o resto do país, assim haja um efeito de inspiração do projeto 'Elo' para outras instituições e regiões", frisou.

Com o "Elo", o Coliseu e os Clérigos pretendem criar lugar e tempo para a experiência e fruição artísticas, num programa inclusivo, desenhado com sensibilidade, de modo a possibilitar, maioritariamente, a participação de pessoas que não têm proximidade às artes, e menos ainda ao lugar do artista. Aqui, todos terão oportunidade de ser artistas, cada um através do seu modo singular de ser, estar, sentir, partilhar, fazer, existir.