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Espírito mobilizador dos moradores inspira requalificação no Bairro da Tapada

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“Pai, aquela é a nossa casa?”, pergunta uma menina do Bairro da Tapada a apontar para as imagens na tela. Será. Reunidos num pátio comum, lugar de sardinhadas e vida em comunidade, os moradores daquele bairro nas Fontainhas puderam conhecer, em primeira mão, o resultado da luta que iniciaram para que as suas casas não acabassem vendidas a privados. Depois de assegurar a sua propriedade, e passando a gestão para a Domus Social, o próprio presidente da Câmara foi ao bairro mostrar o projeto que vai reerguer 25 fogos dignos em habitabilidade, acessibilidade e segurança.

“Foi inspirador o vosso espírito mobilizador”, confessou Rui Moreira, recordando que foi a associação de moradores que avisou, com tempo, a autarquia para a iminência da venda do espaço a privados. “Resolvemos exercer o direito de preferência para adquirir o bairro e, assim, garantir que as pessoas não tinham que sair daqui”, explica o presidente.

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O “rosto” dos moradores, Alfredo Jesus Rodrigues lembra essa altura em que, depois de ouvir da empresa que compraria as casas que não o fazia “para fazer caridade nem favores a ninguém”, chegou “a ir à Assembleia da República e se não me agarrasse ao presidente da Câmara não tínhamos ido a lado nenhum”.

Nesta tarde, o presidente da Câmara e o vereador do Urbanismo e da Habitação mostraram-lhes o que têm definido para a “reestruturação do bairro, que vai permitir que ele tenha condições de habitabilidade e salubridade de acordo com os critérios que a Câmara tem para toda a sua habitação social”, refere Rui Moreira.

É a ideia de quase uma aldeia dentro da cidade, que vai permanecendo aqui e ali, e nós temos que manter estas comunidades".

Sublinhando como “esta é uma comunidade muito antiga, há pessoas que vivem aqui há 80 anos” (é o caso de Alfredo Rodrigues), o presidente da Câmara reforça o “enorme espírito de comunidade”, que faz com que “as pessoas queiram viver juntas” no bairro de sempre.

“É a ideia de quase uma aldeia dentro da cidade, que vai permanecendo aqui e ali, e nós temos que manter estas comunidades. Estas pessoas têm um espírito de entreajuda e isso é maravilhoso nas cidades”, admite Rui Moreira.

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Uma habitabilidade mais digna e melhor acessibilidade para todos

O projeto, apresentado pelo autor, o arquiteto André Tavares, vai criar 25 habitações, distribuídas ao longo de dois volumes, um com um piso e outro com dois, dando origem a 15 fogos T1, três T1+1 e sete de tipologia T2.

Os anexos serão eliminados e todas as frações terão instalações sanitárias, cozinha, sala, quartos, lavandaria e zonas de arrumação. Além de serem resolvidas patologias como fissuras, infiltrações e problemas de humidade, a intervenção irá garantir um melhor desempenho energético das habitações.

A acessibilidade de todos os moradores será melhorada, também, com a instalação de um elevador, que vai assegurar uma ligação vertical ao Passeio das Fontainhas, criando uma saída de emergência.

Quem vier cá ver o fogo, toda a gente come sardinhas”.

O sentido de comunidade continuará a caraterizar o espaço com o aumento das áreas comuns e a colocação de bancos.

Moradores realojados durante os dois anos de obra

Este ano ainda há São João no Bairro da Tapada – e Alfredo Rodrigues garante que, como sempre, “quem vier cá ver o fogo, toda a gente come sardinhas”. O próximo só daqui a dois anos, quando a obra, que arranca no segundo semestre deste ano, estiver terminada.

Recorde-se que o concurso público para requalificação do bairro aceita propostas até ao dia 27 de junho. O investimento ultrapassa os três milhões de euros.

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Apresentado o projeto, as conversas para dar início às mudanças – a cargo da autarquia - começam na próxima semana. Enquanto não puderem regressar a casa, os moradores da Tapada serão realojados em habitações municipais ou arrendadas pela Câmara, à semelhança do que está a acontecer na Ilha da Lomba, sempre com a garantia de que, de volta ao bairro, as rendas a pagar serão calculadas em função dos rendimentos de cada agregado.

E tudo voltará ao de sempre na vida do bairro: um lugar pacato, com uma vista de fazer inveja, onde, garante Alfredo Rodrigues, “quando uma pessoa ouve um ‘ai’ estamos logo lá para acudir, estamos aqui uns para os outros”. E de volta às sardinhadas, também.