Sociedade

Histórias da Cidade: uma capela que liga os alfaiates a Nossa Senhora de Agosto

  • Paulo Alexandre Neves

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Na zona da Batalha, existe uma rua com um nome curioso: Rua do Sol. Muito próximo situava-se uma das portas da muralha fernandina, precisamente a Porta do Sol, assim chamada por apresentar um grande sol esculpido na sua fachada. Mas o foco maior na citada rua vai para a Capela dos Alfaiates.

Erguida, inicialmente em 1554, em frente à Sé, voltada para a sua fachada principal, foi projetada e executada pelo artista Manuel Luís. Monumento nacional, também conhecida como Capela de Nossa Senhora de Agosto e São Bom Homem é considerada exemplar único no norte do país marca a transição do estilo gótico para o maneirista.

Em 1549 já existia uma imagem de Nossa Senhora de Agosto (ou da Assunção), numa pequena capela instalada no sobrado de uma casa fronteira à porta principal da Sé. Casa essa que pertencia ao Cabido, que, em 1554, a cedeu aos “oficiais alfaiates”, com uma obrigação: construírem uma capela dedicada a Nossa Senhora (de Agosto). No ano seguinte, os alfaiates construíram o templo.

Padroeiros dos alfaiates

Curiosamente, a Irmandade de Nossa Senhora de Agosto não era administrada apenas pelos alfaiates, mas também pelos "oficiais dos ofícios de sirgueiros, vestimenteiros, bordadores, luveiros, calceteiros, tecelões e mercadores de loja aberta na cidade do Porto e seus arredores", como se lê nos seus estatutos, datados de 1690.

A Confraria dos Alfaiates do Porto teve como padroeira, desde o início, Nossa Senhora da Assunção, com uma grande festa anual a 15 de agosto (daí a designação também de Nossa Senhora de Agosto), a que se juntou, como patrono, São Bom Homem, patrono dos alfaiates, dos adelos e dos negociantes de panos.

Da capela sabe-se que foi reconstruída em 1680, mas, nos finais do século XVIII, com o fim dos privilégios das confrarias (em 1825), foi votada ao abandono. Em 1853, a Associação dos Alfaiates da Cidade do Porto voltou a dar vida ao templo, retomando as festividades em honra dos seus padroeiros.

Desmantelada em 1935, por ordem da Câmara Municipal para construção do Terreiro da Sé, foi reedificada 16 anos depois, com os materiais da antiga capela, no local onde agora se encontra, precisamente na confluência das ruas do Sol e de D. Luís.