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Histórias da Cidade: Helena Abreu, pintora que chega hoje aos 100 anos

  • Paulo Alexandre Neves

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Uma vida cheia dedicada ao ensino e à pintura, a par da família, que hoje está de parabéns. Maria Helena Pais de Abreu comemora 100 anos. É o seu filho, Mário Pessegueiro, que a define: "Criou três filhos sem qualquer interrupção na sua atividade de professora, que abarcou totalmente. Na verdade, foi professora de centenas de alunos no Porto, que ainda hoje se lembram dela".

Helena Abreu nasceu a 4 de agosto de 1924, na freguesia de Santa Eulália, concelho de Seia (Guarda). Frequenta a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e a Escola de Belas Artes. Nesta última é discípula dos mestres Joaquim Lopes, Dórdio Gomes e Barata Feyo, licenciando-se em Desenho.

Os tempos não são fáceis. Recém-casada não tinha dinheiro para a lua-de-mel e, juntamente com o seu marido, parte para uma denominada "Missão de Estética" (hoje workshop) em Vila Viçosa, para ali aprender a pintar, com mestres de reconhecido mérito na época. Era a única mulher. "Na altura não era nada vulgar ou considerado até impróprio as mulheres seguirem cursos artísticos, como Pintura. Felizmente que o seu pai, professor de pensamento progressista, cedo reconheceu que o seu mérito de artista não devia ser interrompido e poderia definir o seu percurso de vida", assinala Mário Pessegueiro, em texto facultado ao Porto., dedicado à sua mãe e que será hoje lido durante a comemoração do 100.º aniversário.

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Somente em 1968 conseguiu realizar a sua primeira exposição individual, no Ateneu Comercial. A partir daí, a sua produção artística intensificou-se, atingindo o auge em 1977 e 1980, quando, em Paris, recebe menções honrosas no "Salon des Artistes Français". Em 1980 foi mesmo admitida como sócia da "Société des Artistes Français".

A par da atividade artística, Helena Abreu dedica-se ao ensino, atividade que exerceu durante 36 anos. Passou pelos, então, liceus Carolina Michaelis, D. Manuel II (atual, Escola Secundária Rodrigues de Freitas), Rainha Santa Isabel e Garcia de Orta. É autora de livros didáticos para o 2.º e 3.º ciclo dos liceus, realizando também inúmeros trabalhos de ilustração, nomeadamente de livros infantis.

"Foi professora de centenas de alunos, no Porto, que ainda hoje se lembram dela e a felicitam, na sua página de Facebook, pelo empenho e motivação que lhes incutia para seguirem os seus dotes artísticos", recorda o filho.

Foi professora de centenas de alunos, no Porto, que ainda hoje se lembram dela e a felicitam pelo empenho e motivação que lhes incutia para seguirem os seus dotes artísticos

E acrescenta: "Tinha uma grande autoconfiança e rigor sobre o que criava, mas chamava a família para criticarem as suas obras. E sabia ouvir. No fundo, para confirmarem o que ela já tinha visto".

Mário Pessegueiro assinala que, "mantendo uma autodisciplina determinada", a sua mãe "começava a pintar pelas 9 horas, todos os dias, até ao final da tarde. Não o fazia só quando tinha inspiração". Deixou de pintar, em 2008, aos 85 anos.

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Feminista visceral, Helena Abreu foi agraciada, ao longo da sua vida, com vários títulos. Para além das já citadas menções honrosas em Paris recebeu, em 2001, a Medalha de Mérito Cultural, grau ouro, da Câmara Municipal do Porto (antes, em 1989, já tinha recebido a mesma medalha, grau prata).

Está representada em várias instituições públicas e privadas, entre as quais, a Fundação Eng. António de Almeida, Museu de Arte Contemporânea, em Lisboa, Museu Nacional de Aveiro, Ministério da Justiça, Palácio de S. Bento, Assembleia da República e Câmara Municipal do Porto.

"A sua obra está preenchida de afetos, emoções e beleza, pois não acreditava na negritude na arte", sublinha o seu filho, acrescentando: "De então para cá [quando deixou de pintar] tornou-se numa pessoa mais afável e dócil, longe dos constantes afazeres que sempre a envolviam, demonstrando serenidade por ter a sua família por perto. No fundo, o bem do qual nunca abdicou".