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Histórias da cidade: o monumento que inspira uma “serena impressão de beleza”

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A presente edição da Feira do Livro do Porto, que hoje termina, celebrou Júlio Dinis. O autor passa a ter uma tília de homenagem nos Jardins do Palácio de Cristal, que se junta ao monumento que já lhe tinha sido dedicado na cidade, em 1926.

O monumento a Júlio Dinis celebra as múltiplas dimensões desta personalidade do Porto: homenageia o escritor, mas também o médico, já que está situado no Largo do Professor Abel Salazar, em frente ao Hospital de Santo António. A homenagem partiu de uma iniciativa da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), tendo sido inaugurada em 1926.

Júlio Dinis, pseudónimo escolhido por Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871), deixou-nos uma obra que inclui poesia, teatro, mas destacou-se sobretudo como romancista. O Porto, cidade onde nasceu, passou grande parte da vida e morreu, tem lugar destacado na sua produção, particularmente em “Uma Família Inglesa”.

O monumento dedicado a Júlio Dinis foi erigido por meio de subscrição pública, aberta pela FMUP em 1923. “A Faculdade de Medicina, honrando-se e à cidade, tem envidado todos os seus melhores esforços para que, dentro do menor prazo possível, o Porto pague a sua dívida de gratidão àquele dos seus filhos que tão bem deixou marcada nos seus livros a vida da cidade do seu tempo”, podia ler-se n’O Comércio do Porto em janeiro de 1926.

“O monumento, que constituirá uma bela obra de arte, bem digna da memória de Júlio Dinis, é da autoria do distinto escultor João da Silva, que no seu atelier de Paris nele trabalha com todo o carinho e arte”, acrescentava o periódico, concluindo: “O ilustre diretor da Faculdade de Medicina, senhor dr. Alfredo de Magalhães, tem empenhado o melhor dos seus esforços para que, com a máxima brevidade, o Porto se possa orgulhar de possuir um monumento a Júlio Dinis, havendo, por várias vezes, ido a Paris com aquele fim.”

Os trabalhos decorreriam até ao final desse ano, tendo o monumento sido inaugurado a 1 de dezembro de 1926. O acontecimento teve repercussão nacional: o Diário de Lisboa fez-se representar na cobertura da inauguração, embora a missão tenha sido perturbada por algumas peripécias. “Cheguei ao Porto na quarta-feira [1 de dezembro de 1926], com um dia frio, cortado por grandes chuveiros; não assisti, por isso, à inauguração do monumento a Júlio Dinis que, afinal, se realizou sem chuva, com brilhantes discursos e o entusiasmo da assistência popular juntando a sua nota comovente”, assinalava Maria de Carvalho na crónica publicada na edição de dia 4 de dezembro.

A cronista enviada pelo Diário de Lisboa teria, posteriormente, oportunidade de apreciar o monumento: “Na manhã seguinte, vou ver o monumento, e contemplo-o alguns instantes, procurando integrar-me no pensamento do artista. No soclo, em relevo, as cabeças dos leitores; ergue-se uma figura de mulher no pedestal, elevando os braços, que seguram uma longa e partida coroa de louros; no alto, o busto, expressivo, sóbrio, clássico, com o pescoço e os ombros nus, tornando-se esbelto e severo, assim despido de indumentárias banais. Deixou-me uma serena impressão de beleza.”

Passados 95 anos, a impressão mantém-se. E o romantismo com que Júlio Dinis olhou para o Porto continua a fazer-se sentir.