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Investigação sugere mecanismos na luta contra efeitos secundários da quimioterapia

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Filipa Brito

Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) descobriram que pode ser possível mitigar os efeitos da quimioterapia, conhecidos como neuropatia periférica, e sugerem a realização de exames de neuroimagem antes e depois do tratamento.

"É recomendável que se façam estudos imagiológicos do encéfalo antes e depois da quimioterapia para ver como é que os centros cerebrais de modelação da dor são afetados durante o tratamento com citostáticos [substância que se usa na quimioterapia que não é igual e depende do tipo de cancro] porque começamos a perceber que há muitas pessoas que têm neuropatia [lesão nos nervos] induzida por citostáticos", descreveu à Agência Lusa a investigadora Isaura Tavares.

A responsável pela formação de médicos no âmbito da Cátedra de Medicina da Dor da FMUP apontou que os efeitos secundários mais debilitantes associados à quimioterapia podem atingir até 68% dos doentes com cancro submetidos a tratamento, efeitos esses que "importa prevenir e mitigar". Dor, formigueiros, sensação de queimadura e de choques elétricos, sensibilidade a estímulos como calor, frio ou toque e alterações motoras são alguns dos efeitos secundários mais debilitantes associados à quimioterapia.

"Através do estudo percebeu-se que a lesão dos nervos periféricos provocada pela quimioterapia afeta, significativamente, o sistema nervoso central, nomeadamente o cérebro e a medula espinhal (…). Os nervos ficam doentes por terem sido tratados durante a quimioterapia e essa lesão à periferia, que está provada e é muito comum, vai afetar a forma como o sistema nervoso central responde", explicou.

Importância de fazer exames de imagem

Até à data, "não existe forma de prevenir ou fazer cessar a dor neuropática", ao contrário do que acontece com outros sintomas (como os vómitos), o que pode afetar, negativamente, a sobrevivência dos doentes com cancro que necessitam de quimioterapia. Razão pela qual a equipa recomenda que os doentes façam exames de imagem antes de iniciarem os tratamentos, procedimento já aplicado em outros países.

A neuropatia periférica pode obrigar a reduzir a dose ou mesmo a interromper a quimioterapia devido aos efeitos secundários. "Há doentes que não conseguem lavar as mãos à temperatura ambiente porque a água passa a ser dolorosa. Outros ficam em cadeira de rodas”, acrescentou a investigadora sobre efeitos que podem persistir mesmo para além do tratamento, de forma irreversível, resultando numa diminuição da qualidade de vida dos doentes e num aumento das despesas em saúde.

A equipa da FMUP realizou estudos no Instituto de Investigaciones Biomédicas Alberto Sols da Universidade Autónoma de Madrid, em Espanha. Além de Isaura Tavares, fazem parte da equipa investigadores e estudantes da FMUP como Rita Oliveira, Joana Oliveira, Carolina Bacalhau, Mário Cunha, Isabel Martins, Paula Serrão e José Tiago Costa Pereira.