Jornalista Fátima Campos Ferreira apresenta livro de memórias

O auditório da Fundação de Serralves foi o local escolhido, no Porto, para a apresentação do livro "O infinito está nos olhos do outro – Diz-lhes quem fomos – uma história de família", de Fátima Campos Ferreira, com prefácio de António Ramalho Eanes. O antigo Presidente da República, conjuntamente com o presidente da Fundação Bial, Luís Portela, apresentaram a obra. Também presente na cerimónia, o presidente da Câmara do Porto fez uma breve introdução sobre a autora.

"Com uma vida pessoal e profissional tão rica, seria de esperar que, quando escrevesse as suas memórias, Fátima Campos Ferreira se centrasse naquilo que representa para o jornalismo português e para a vida pública portuguesa dos últimos 30 anos", frisou Rui Moreira, notando que a autora optou por um outro registo: "Num gesto de invulgar desprendimento para uma figura tão popular, [Fátima Campos Ferreira] remeteu-se para segundo plano e ofereceu-nos um comovente retrato de família. Da sua família".

Medalha de Mérito da Cidade, atribuída no ano passado – "quisemos também retribuir-lhe o amor que tem pelo Porto e agradecer-lhe a forma como, publicamente, enaltece a cidade e a prestigia com o seu trabalho", disse o autarca –, Fátima Campos Ferreira oferece, através do livro, "uma perspetiva singular da complexidade da família enquanto instituição social. A história relatada [por Fátima Campos Ferreira] deixa perceber as diferenças geracionais, as expetativas profissionais, os hábitos culturais e as hierarquias sociais que atravessam e enformam a dinâmica de qualquer família", sublinhou o presidente da Câmara.

"Mas este livro não é uma autobiografia. É antes de mais uma declaração de amor filial e uma vontade de transmitir às novas gerações tudo o que esse amor consubstancia – emoções, afetos, valores, ensinamentos", acrescentou.

Rui Moreira confessou mesmo que, ao ler o livro, "reconheci na família de Fátima Campos Ferreira a maneira de estar, viver e pensar dos meus pais. Reconheci a mesma dedicação familiar, a mesma probidade moral, o mesmo apego ao trabalho, a mesmo vida frugal, o mesmo interesse pela cultura, a mesma sobriedade nos afetos".

Um livro sobre mulheres, sem esquecer a cidade do Porto

Para além da família, o Porto ocupa um lugar central nesta obra. Depois de migrarem entre o norte e o sul do país, foi nesta cidade que a família de Fátima Campos Ferreira se estabeleceu e criou as mais fortes raízes. De acordo com Rui Moreira, "não foi amor à primeira vista. O Porto é uma cidade que 'primeiro estranha-se, depois entranha-se'. O 'Porto cinzento, frio e com uma pronúncia diferente' rapidamente se tornou, para a família de Fátima Campos Ferreira, a cidade das tertúlias, dos cafés, da cultura, dos amigos e até do futebol".

"Muitas vezes a produção historiográfica desvaloriza a vida privada das pessoas. Ora, para compreendermos o passado, é indispensável saber como as famílias viviam, como sentiam, amavam e sofriam, como se relacionavam e como enfrentavam os desafios do seu tempo", adiantou o presidente da Câmara, garantindo que "este é também um livro sobre mulheres. Sobre mulheres fortes, lutadoras e corajosas, que deram tudo pelo bem-estar e segurança da sua família. Sobre mulheres que souberam contrariar as relações de poder de uma sociedade patriarcal e assumir um papel decisivo no seu núcleo familiar".

"Em suma, 'O infinito está nos olhos do outro' é uma comovente história de família. Uma história de família que magnifica o amor filial, reflete sobre a condição humana e retrata uma época, uma geração e um país. Daqui resulta um contributo da memória individual e familiar na construção da história coletiva. E subjacente a tudo isto está um profundo humanismo. Perpassa por este livro a capacidade de compreender o nosso semelhante, de partilhar os seus estados emocionais, de respeitar os seus sentimentos mais íntimos", concluiu Rui Moreira.

Fátima Campos Ferreira é uma das mais consagradas jornalistas portuguesas e um dos rostos mais populares da estação pública de televisão. Apresentadora do Jornal da Tarde, produzido pela RTP Porto, ainda na década de 80 do século passado, desenvolveu uma fulgurante carreira jornalística como pivot, repórter e entrevistadora da RTP, a partir de meados dos anos 90. Conduziu o programa de debates "Prós e Contras", também na estação pública, de 2002 a 2020. Hoje, é coautora e apresentadora do "Primeira Pessoa".