Política

Norte tem muito a ganhar com a alta velocidade Porto-Lisboa e ligação a Vigo

  • Paulo Alexandre Neves

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Esta quarta-feira, no mesmo dia em que se ficou a saber que o projeto para a Alta Velocidade, entre Porto e Lisboa, irá receber fundos europeus de 813 milhões de euros para a primeira fase, em Esposende, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, participou num debate, promovido pela Associação Empresarial do Minho (AEMinho), precisamente sobre a linha de alta velocidade, acoplando a temática do novo aeroporto de Lisboa.

E se sobre o primeiro tema, todos os oradores – Jorge Sobrado, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), Ricardo Rio, presidente da Câmara de Braga, Alberto Castro, Chairman da Altri, SGPS, e o ex-secretário de Estado Adjunto e das Infraestruturas Frederico Francisco – estão de acordo, ou seja, avançar com a primeira fase da Alta Velocidade (Porto-Soure), já a opção escolhida para construção do novo aeroporto de Lisboa merece muitas reticências.

Vamos por partes. Alta Velocidade em Portugal. "Porque demorou tanto tempo?", questionou, desde logo, Rui Moreira na sua intervenção inicial, apoiando a ideia, deixada antes pelo orador principal do debate, Frederico Francisco, que, através de dados objetivos, considerou mais viável a opção Porto-Lisboa que Lisboa-Madrid.

"No meio desta história toda, Lisboa é que quer ser independente porque está alinhada com Madrid. Isto explica muitos dos erros estratégicos, cometidos ao longo dos anos, sobre a alta velocidade", afirmou Rui Moreira.

"Esta história começa em 1995 [com o, então, ministro das Obras Públicas, João Cravinho, que defendia o 'T' deitado para a alta velocidade]. São muitos anos, muitas proclamações, muitos anúncios, portanto vamos ver se desta vez as coisas arrancam mesmo", sublinhou, recordando que a região não pode "continuar a depender da Linha do Norte, que é claramente insuficiente para mercadorias e para passageiros, não tem a velocidade desejada".

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No meio desta história toda, Lisboa é que quer ser independente porque está alinhada com Madrid

Para o autarca portuense, "há uma oportunidade que tem de ser aproveitada", baseada "num pensamento estratégico político", para que "toda esta faixa atlântica seja devidamente infraestruturada", sem nunca perder a ideia de "construir em rede [a Alta Velocidade] na Península Ibérica".

Também para o presidente da Câmara de Braga, o eixo atlântico deve ser a prioridade do Governo, prometendo manter o tema da ligação Porto-Vigo na agenda pública. "Há que, sobretudo, não deixar cair este tema [ligação Porto-Vigo] no esquecimento, assumi-lo como uma prioridade, e é isso que nós desejamos, é que a ligação atlântica seja a prioridade do Governo português", disse Ricardo Rio.

"Ainda que de tão recalcados estejamos nesta questão nunca é demais repisar, junto dos decisores políticos, a importância deste assunto", acrescentou.

Antes, o ex-secretário de Estado e coordenador do Plano Ferroviário Nacional (PFN) garantiu que "a notícia [dos 813 milhões de euros] é certamente um fator positivo. Dá boas perspetivas para que nos próximos anos, até ao final deste quadro - que termina em 2027 - que o país possa ainda, em base competitiva, conseguir mais fundos para este projeto".

Para o vice-presidente da CCDR-N, "o calendário joga a nosso favor. É necessário reforçar a ligação à Galiza".

Rui Moreira sem otimismo sobre construção do novo aeroporto de Lisboa

Para além da Alta Velocidade, o debate promovido pela AEMinho, presidida por Ramiro Brito, pedia um pronunciamento dos oradores sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa. Moderado pelo diretor do jornal ECO, António Costa, o consenso foi (quase) generalizado: nada contra a construção, tudo a desfavor da opção por Alcochete.

Também neste aspeto, o presidente da Câmara do Porto considerou que foram cometidos “um conjunto de erros, ao longo dos anos. É, por isso, que ainda não temos aeroporto", disse, culpando o anterior líder do PSD, Rui Rio, de ter rasgado a opção por Montijo, que estava consensualizada desde os tempos do primeiro-ministro Passos Coelho.

Foram cometidos um conjunto de erros, ao longo dos anos. É, por isso, que ainda não temos aeroporto

Daí manifestar-se "nada otimista" acerca da construção do novo aeroporto de Lisboa, considerando que Alcochete não é a melhor localização para a infraestrutura. "Não tenho otimismo por variadíssimas razões. Em primeiro lugar, vamos ver o que é que vai dar o Estudo de Impacto Ambiental que vai ter que ser refeito", disse.

Depois, porque estamos perante "uma das maiores aquíferas da Europa", mantendo-se "o problema das aves ou da migração entre os estuários do Tejo e do Sado", bem como a existência de "dezenas de milhares de sobreiros".

"A meu ver, a localização é errada, porque é uma distância excessivamente grande da capital e depois porque é um aeroporto que está previsto para qualquer coisa como a triplicação do tráfego" algo de que duvida, "sem pôr em dúvida a competência da comissão independente, que considerou Alcochete a melhor localização.

Questionando "de onde é que vem tanta gente", Rui Moreira disse não conseguir "imaginar como é que Lisboa e a Península de Setúbal vão ter capacidade para ter o triplo das pessoas", considerando que isso não é "razoável".

"Bem sei que há muita gente que acha que as pessoas do Porto não devem dar opiniões sobre coisas de Lisboa, mas isto é um projeto nacional", pelo que baseou a sua opinião em estudos encomendados quando era presidente da Associação Comercial do Porto (ACP) e que defendia a opção "Portela + 1", documento também recordado por Alberto Castro, Chairman da Altri, SGPS, durante a sua intervenção.

Rui Moreira disse ainda existir "um outro problema" com o novo aeroporto, que é "ter uma companhia aérea que acredite" num grande 'hub0 internacional. "Não sei o que é que vai acontecer à TAP. Não sei se a TAP vai ter músculo, qualquer que seja o futuro da TAP, para justificar um 'hub", considerou.

Para o economista Alberto Castro, não estando em causa a construção do novo aeroporto, há ainda um outro problema, mais estrutural. "Há 20 anos que Lisboa começou a ser lastro e não alavanca do país. Tem vivido à custa do crescimento do país e do Norte, em particular. A visão mecanicista que é preciso desenvolver Lisboa e depois o país vai atrás já foi chão que deu uvas", acrescentou o Chairman da Altri.

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