Cultura

Novo polo cultural (re)nasce com a reabilitação do Ateliê António Carneiro

  • Paulo Alexandre Neves

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Reabilitação arquitetónica e também da obra de um dos principais pintores portugueses do final do século XIX e começo do século XX. O Ateliê António Carneiro, até agora Casa-Oficina, abriu portas, esta quinta-feira, "aproximando o nome à sua natureza original". O projeto, a cargo do arquiteto Camilo Rebelo, dá vida à exposição de 90 obras de António Carneiro, com curadoria de Bernardo Pinto de Almeida, numa simbiose perfeita entre arte e arquitetura.

"É sempre uma grata alegria devolver à cidade espaços que pertencem à sua memória coletiva e que, por circunstâncias várias, foram votados ao esquecimento", garantiu, durante a inauguração, o presidente da Câmara, reforçando: "É sempre uma grata alegria promover o acesso ao património histórico da cidade, criando projetos museológicos vivos, dinâmicos, voltados para o futuro".

"É sempre uma grata alegria homenagear as grandes figuras da cidade, possibilitando o conhecimento exaustivo da sua vida, obra e pensamento", acrescentou Rui Moreira.

A inauguração do Ateliê António Carneiro transforma-se, por isso, em "alegria" e em "sentimento de dever cumprido". "Estamos a reforçar a rede museológica do Museu do Porto, no quadro da nossa política de valorização do património, da identidade e da memória da cidade", sublinhou.

Uma política patrimonial e museológica "com sentido de contemporaneidade, que mais do que preservar o passado entreabre o futuro", uma política que "não se circunscreve à instalação e exibição de coleções, servindo outrossim de gatilho ao estudo, à edição, à programação e à curadoria", uma política que "fomenta o diálogo com diferentes públicos e gerações. Que confronta a memória histórica com a vivência e a sensibilidade contemporâneas. Que cruza o património com a criação artística, o pensamento crítico e a inovação tecnológica".

Rui Moreira está seguro que, nesta sua nova vida, "o Ateliê António Carneiro vai ser um espaço aberto, sinérgico, transformador". "Este novo museu é também um reencontro do Porto com a sua história e identidade", com o período – a transição do século XIX para o século XX – em que "a cidade esteve na vanguarda artística, intelectual e política do país".

Para o arquiteto Camilo Rebelo, que trabalhou no projeto conjuntamente com Cristina Chicau e Patrícia Barbosa, esta "é uma pequena obra" com um significado especial. "Este projeto aconteceu no ano da pandemia" e "fechados em casa, sem trabalho, foi o único que não parou". "Esta casa é uma espécie de joia, uma casa de uma luz diagonal, das catedrais. Não é uma relação de 'tu', é uma relação com o superior", acrescentou.

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Este projeto aconteceu no ano da pandemia. Fechados em casa, sem trabalho, foi o único que não parou”

Com curadoria de Bernardo Pinto de Almeida, a exposição conta com obras do acervo municipal, da Fundação e Centro de Arte Moderna Calouste Gulbenkian, do Museu de Arte Contemporânea do Chiado, da Fundação Cupertino de Miranda, da Fundação Millennium bcp, do Museu e Igreja da Misericórdia do Porto e das câmaras municipais de Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Amarante, para além de diversas coleções particulares, como assinala a autarquia.

"António Carneiro é um dos grandes artistas da história da arte portuguesa. Fez com mais sabedoria, inteligência e sensibilidade, a passagem do século XIX para o século XX", frisou Bernardo Pinto de Almeida, acrescentando que o artista "voltou a ligar a arte portuguesa com a arte internacional, de uma forma original, autónoma, não dependente".

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Entre os vários núcleos que compõem a exposição destaque para "A Paisagem", com algumas obras menos conhecidas do artista, a "Chave Simbolista", que denota como a arte de António Carneiro começou por se abrir ao Simbolismo, e "A Família", onde se reúnem algumas das imagens íntimas em que o artista retratou. Das 90 obras apresentadas, destaque para o estudo e o tríptico "A Vida", os "Ecce Homos", os autorretratos e uma série de retratos da família, bem como pinturas marinhas e "Noturnos".

A mostra acolhe ainda obras de Aurélia de Sousa, Amadeo de Souza-Cardoso e Auguste Rodin e outros artistas contemporâneos a António Carneiro, para além de três núcleos escultórios de Miguel Branco, que ofereceu uma delas ao Ateliê, ficando instalada nos seus jardins.

Construída na década de 1920, a antiga Casa-Oficina de António Carneiro serviu como ateliê do próprio e do seu filho Carlos Carneiro, também homenageado na inauguração, através da interpretação da sua obra, numa programação do Curso de Música Silva Monteiro.

A sua reabilitação ficou a cargo da GO Porto, num investimento municipal que rondou os 650 mil euros.

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