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Num “momento simbólico de metamorfose”, Museu e Bibliotecas do Porto falam a uma só voz

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A apresentação da nova identidade do Museu e das Bibliotecas do Porto decorreu na Alfândega, morada do futuro núcleo central do Museu do Porto. Agenda para os meses de março e abril inclui quase 100 propostas.

“A partir de hoje, a partir deste momento, o Museu da Cidade é o Museu do Porto”, vincou o diretor do Museu e Bibliotecas do Porto, descrevendo a ocasião como um “momento simbólico de metamorfose.”

“É uma declaração de princípio, uma declaração programática. Enuncia um vínculo primordial do projeto deste Museu. O Porto é, será, o alfa e o ómega, o princípio e o fim, do Museu que toma o seu nome. Será o seu objeto enquanto território; e o seu destinatário, enquanto público, sem que nisto se exclua a sua profunda diversidade”, notou Jorge Sobrado.

A adoção da designação Museu do Porto “significa também o inconformado desejo de superar o desconhecimento e incompreensão acerca do que somos e fazemos”, sublinhou, acrescentando: “Afirma o compromisso de uma nova casa. Uma casa a que possamos chamar ‘Museu do Porto’, que será simultaneamente núcleo central, casa de partida e fio condutor da rede museológica municipal que lhe toma de empréstimo o nome.”

A Alfândega do Porto, morada do futuro núcleo central do Museu do Porto, foi um palco carregado de significado, admitiu Jorge Sobrado. “Desejamos abri-la convosco já no próximo ano. Convidámos Suzana Faro e Joel Cleto a desenvolver a curadoria do projeto, no contexto de uma ampla rede de colaborações científicas e artísticas que convoca a cidade”, revelou.

Na sua intervenção, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, concordou que a Alfândega é a escolha acertada: “Não poderíamos encontrar melhor morada do ponto de vista da localização, do ponto de vista simbólico e patrimonial, do ponto de vista das condições infraestruturais para uma execução no curto prazo, mas também do ponto de vista do turismo.”

“Ao mesmo tempo, sonhamos já com uma morada definitiva, situado também aqui, em Miragaia – o Palácio de São João Novo. É um património notável, propriedade do Estado central, e que desejamos ter de volta à cidade. Este será um reencontro com a história do lugar e da cidade”, congratulou-se o autarca, sublinhando a importância de ser adotada a designação Museu do Porto “para vencermos de uma vez por todas a dificuldade de reconhecimento do Museu e para tirarmos plenamente partido da força da nossa marca: o Porto”.

Agenda integrada

“Museu e Bibliotecas do Porto passam a apresentar-se sob o mesmo desígnio tipográfico, a dialogar de modo sistémico, a falar a uma só voz. São ‘uma constelação para viver a cidade’”, prosseguiu o diretor dos dois projetos culturais, celebrando a “primeira agenda integrada das suas programações”. “O carácter autêntico, a simplicidade das formas e o compromisso estético e pedagógico definem a nova marca-família e a sua comunicação. Por essa razão, é também lançada uma versão reformulada do site do Museu”, assinalou.

Com o anúncio do encerramento temporário da Biblioteca Pública Municipal do Porto, Jorge Sobrado apresentou o projeto “Biblioteca Errante”, uma rede pulverizada de bibliotecas temáticas que “viverá, em boa parte, mas não só, nas casas do Museu do Porto.”

A agenda para os meses de março e abril contém quase 100 propostas, maioritariamente de acesso gratuito, com uma aposta no incremento para o público infantojuvenil. “A sua oferta passa a figurar na nossa agenda, de modo destacado, em páginas de cor distinta”, realçou Jorge Sobrado, sublinhando alguns dos destaques: “As atividades do centenário de Eugénio merecem o destaque de capa. Em março e abril, há ainda conferências imperdíveis, leituras em casa e na rua, oficinas, um roteiro na cidade, uma exposição para redescobrir o poeta portuense da exatidão.”

Dos destaques programáticos, o diretor do Museu e das Bibliotecas do Porto sublinhou a inauguração de uma exposição sobre o Parque da Cidade, na Casa do Infante, bem como o compromisso com a música erudita e contemporânea em diferentes espaços que compõem a rede. “Aurélia de Souza será celebrada, no dia do seu nascimento, [em junho] como a própria gostaria: com novas criações no feminino, feitas a partir dos seus cadernos de artista. No verão, propomo-nos reabrir a Antiga Casa da Câmara, a chamada Casa dos 24, com uma exposição dedicada àquela obra e ao seu autor, o arquiteto Fernando Távora, no ano do centenário do seu nascimento. Contamos com a colaboração do arqueólogo que dirigiu a primeira escavação no local e acompanhou Távora, Manuel Real”, prosseguiu.

O Arqueossítio reabrirá também as suas portas em 2023 e o Museu Guerra Junqueiro renovará a sua exposição de longa duração. “Não fechamos o ano sem revisitar o Museu do Vinho do Porto e sem celebrar um dos maiores artistas da nossa cidade, António Carneiro. Uma vez reabilitada, a casa-oficina do precursor do Simbolismo em Portugal reabre-se à cidade com uma exposição dirigida por Bernardo Pinto de Almeida”, enumerou o responsável.

Regresso de “Um Objeto e Seus Discursos”

A Casa-Oficina de António Carneiro será, já a 18 de março, “palco e protagonista da primeira sessão do novo ciclo de ‘Um Objeto e Seus Discursos’”, assinalou Jorge Sobrado: “Doravante, quinzenalmente, os patrimónios e as histórias, mais ou menos conhecidos, mais ou menos por desocultar, do Museu e Bibliotecas do Porto voltam a brilhar nestes encontros tão acarinhados pelo público.”

“Esta nova fase representa num caminho mais consistente, estruturado e participado de desenvolvimento e concretização do Museu do Porto, fazendo dialogar a sua missão, as suas casas e a sua programação com as Bibliotecas Municipais. Foi esta a ideia, o impulso de convidar Jorge Sobrado a assumir uma direção que integrasse estes dois conjuntos culturais da cidade, para que se contaminassem e reforçassem nos seus diferentes patrimónios e dinâmicas, servindo melhor os seus públicos, tantas vezes comuns”, explicou Rui Moreira.

“Muitos portuenses querem saber do seu Museu, querem saber das suas Bibliotecas, interessam-se pela cidade cultural. Têm essa legítima expectativa e é muito bom que assim aconteça. São os portuenses e aqueles que se chegam e vivem a cidade que tornam o Porto aquilo que ele é”, concluiu o presidente da Câmara Municipal do Porto.

À apresentação seguiu-se um dj set por Susana Cabeleira, com sonoridades melódicas e vigorosas na esfera da música eletrónica, que animaram o final de tarde com o rio Douro como pano de fundo.