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Publicados em livro os “Discursos Intemporais” que António Cândido proferiu na cidade

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Guilherme Costa Oliveira

Uma oração fúnebre nas exéquias de Alexandre Herculano. Uma conferência sobre a moral na política. Três discursos em honra de Victor Hugo, do Infante D. Henrique e por ocasião do 4.º Centenário do Descobrimento do Brasil. Os “Discursos Intemporais” que António Cândido proferiu na cidade do Porto estão, agora, reunidos numa publicação que assinala os 100 anos da morte do conselheiro. Lançamento acontece a 7 de dezembro, às 18 horas, nos Paços do Concelho.

Académico, político e magistrado de finais do século XIX, António Cândido notabilizou-se pelos dotes de oratória. No prefácio que acompanha o livro, uma colaboração do Município do Porto e do Centro de Estudos Amarantinos, o presidente da Câmara evoca o "intelectual de irrepreensível solidez académica, sempre desperto para as inquietações do seu tempo".

"António Cândido deixou-nos um legado intelectual e humano que urge interpretar e vivificar", sublinha Rui Moreira, referindo a inequívoca "lucidez do seu processo mental" e a limpidez "da sua frase".

Deste legado, fazem parte a oração fúnebre proferida, na Igreja da Lapa, aquando das exéquias de Alexandre Herculano, em 1877. "Aqui [no Porto] trabalha-se indefesamente, e ele foi a suprema glorificação do trabalho; aqui a liberdade é mais do que uma convicção profunda, é quase um fanatismo para todas as consciências, e ele adorou-a e quis-lhe como à mais esplendente visão do seu espírito, aqui há saudações para todas as grandezas e para todos os heroísmos, e esse homem tinha, mais que ninguém, as grandezas do génio e os heroísmos da virtude", proferiu António Cândido, naquele 13 de dezembro.

Em honra de Victor Hugo, de quem disse "se não fosse bom não seria génio. Mas foi tudo!", o conselheiro relembrou, num discurso, em 1885, no Ateneu Comercial do Porto, a "noite em que o corpo, exposto sob o Arco do Triunfo, foi velado pelos poetas de França, diante da humanidade cheia de afetos e debaixo do céu coberto de estrelas".

Porto, cidade do desafogo e da liberdade

Quatro anos depois, António Cândido voltaria a falar à sociedade portuense, desta vez no Palácio de Cristal, para honrar o Infante D. Henrique, cujo "coração resistia como o diamante". Para o conselheiro, os fatores que caraterizam as lendas são "a grande força ou a bondade exaltada, mas força empenhado num fim nobilíssimo e bondade exercida simpaticamente".

A propósito do 4.º Centenário do Descobrimento do Brasil, António Cândido haveria de aproveitar a ocasião para assinalar as "saudades" que tinha da "tribuna desta cidade". "Não há melhor em Portugal para o desafogo e liberdade de uma consciência: não a pode haver mais querida do meu coração, que já experimentou aqui, em momentos de inolvidável encanto, o calor e a atração da simpatia alheia", partilhou o conselheiro, no discurso que proferiu, em 1900, no Teatro São João.

O Centenário da Morte do Conselheiro António Cândido vem sendo promovido pela Câmara de Amarante e pelo Centro de Estudos Amarantinos. Dada a relevância das, como considera Rui Moreira, "memoráveis intervenções" do conselheiro na cidade, o Município associou-se a esta evocação, pois, como António Cândido escreveu na "Conferência sobre a Moral na Política", proferida no Ateneu Comercial do Porto, em 1887, "no Porto, como em solo feracíssimo, as boas sementes germinam sempre".