Cultura

Manoel de Oliveira em destaque na edição de maio dos "Cahiers du Cinéma"

  • Notícia

    Notícia

A edição de maio da revista francesa "Cahiers du Cinéma" presta uma homenagem ao cineasta portuense Manoel de Oliveira, dedicando-lhe 36 páginas. Naquela que é considerada a "bíblia" do cinema mundial são publicados alguns artigos, escritos por atores e
especialistas no cinema português.

Leonor Silveira, Luís Miguel Cintra e Diogo Dória são alguns
dos atores que participaram em filmes de Manoel de Oliveira e que agora lhe
dedicam uma justa homenagem. "Olho para trás e apercebo-me que foram 24 anos
passados ao lado dele. É uma vida inteira. É a minha vida. A minha vida
tornou-se indissociável da vida deste homem. Digo-o muitas vezes: sou uma atriz
improvável", pode ler-se no artigo escrito por Leonor Silveira.

Já Luís Miguel Cintra confessa: "A melhor imagem que
tenho dele é aquele breve plano no início de 'Acto da Primavera' em que ele
está atrás da câmara em contrapicado. Não é uma posição de narrador. É uma
posição de poeta. Ele não é um testemunho, ele é acima de tudo uma criança. Ele
é curioso como uma criança em cima de uma árvore e fabricou-se uma imagem
múltipla e viva, um outro universo como um quarto de criança".

"Carta a Manoel de Oliveira" é o título do artigo
escrito por Diogo Dória no qual relembra, por exemplo, "a experiência
inesquecível, a cerimónia, a missa de adeus" que constituíram as filmagens
do último filme do cineasta, "O Velho do Restelo".

A edição conta, ainda, com artigos assinados por
especialistas da obra de Manoel de Oliveira, como António Preto, Mathias Lavin,
Guillaume Bourgeois e Jacques Lemière, assim como uma entrevista a Valérie
Loiseleaux, "que montou quase todos os filmes de Manoel de Oliveira"
desde "'A Divina Comédia', em 1991 a 'O Gebo e a Sombra', em 2012" -
uma relação evocada no filme "Les gants blancs", da realizadora
francesa Louise Traon, exibido na recente edição do festival IndieLisboa e também no Teatro Municipal Rivoli.

A homenagem de 36 páginas termina com as páginas "The
End", nas quais figuram um texto intitulado "Oliveira &
Girls", ao lado de uma fotografia a preto e branco de 1932, com o jovem
Manoel rodeado de sete mulheres, na composição piramidal de uma imagem de
promoção da Tóbis Portuguesa, que produziu "A Canção de Lisboa",
filme de Cottinelli Telmo, no qual Oliveira interpretou "um papel de
boémio galante". "Os grandes cineastas são aqueles que mudam a marcha do
tempo, não apenas durante os seus filmes, mas ao longo da sua obra. Com
Oliveira, as bússolas entravam em pânico", lê-se no editorial dos Cahiers,
assinado pelo chefe de redação, Stéphane Delorme, e inteiramente dedicado ao
cineasta.