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Rui Moreira: “O Aeroporto Francisco Sá Carneiro tem pouca operação da TAP, mas o ideal seria não ter nenhuma”

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O debate sobre a localização do aeroporto de Lisboa juntou, nesta terça-feira, os presidentes da Câmara do Porto e de Lisboa, Rui Moreira e Carlos Moedas, e o ex-ministro do Planeamento, João Cravinho, na conferência “Novo aeroporto: tempo de decidir”, promovida pelo Conselho Económico e Social (CES) e pelo diário Público. O autarca da Invicta fez questão de sublinhar a importância do Aeroporto Francisco Sá Carneiro para a região e para o país.

“A realidade mudou. Hoje claramente temos duas macrorregiões. O aeroporto do Porto demonstrou que tinha capacidade para crescer. Nunca será o aeroporto de Lisboa, porque as duas macrorregiões têm caraterísticas diferentes”, analisou Rui Moreira, vincando: “O principal, para nós, é que deixem o Aeroporto Francisco Sá Carneiro sossegado. Funciona bem, não depende do erário público, e as pessoas estão contentes com o serviço. Tem pouca operação da TAP, mas o ideal seria não ter nenhuma.”

Há uma estratégia delineada, acrescentou o presidente da Câmara do Porto: “O Estado português meteu dinheiro na TAP para justificar a existência de um hub em Lisboa. Mas precisamos de ter um aeroporto no Algarve, precisamos de ter o Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Demonstrou-se que tínhamos razão.”

“Vamos finalmente ter uma duplicação da Linha do Norte. Parece-me mais ou menos óbvio que há uma enorme incerteza relativamente ao que vai ser o desenvolvimento do transporte aéreo. E temos a situação da TAP, em que houve um fortíssimo investimento do Estado português no sentido de a manter. A decisão está tomada”, reiterou Rui Moreira, notando que a proximidade da Galiza representa uma oportunidade para o Porto: “Uma ligação ferroviária que atravesse a fronteira vai permitir atrair mais passageiros. O aeroporto do Porto tem a capacidade de crescer, porque há uma reserva territorial.”

Construir um grande aeroporto “não faz sentido”

Num painel subordinado ao tema “A Norte ou a Sul do Tejo?”, moderado pelo diretor-adjunto do Público, David Pontes, o presidente da Câmara do Porto apontou que “a ideia de construir um grande aeroporto, seja em Alcochete ou em Santarém, parece-me não fazer sentido. Não creio que haja procura que justifique um investimento dessa natureza.”

“Se precisamos de dois aeroportos na faixa atlântica, se precisamos de viabilizar o hub de Lisboa, parece-me que a melhor solução é sempre Portela +1. Parece que o Montijo é a melhor solução, porque já lá existe uma infraestrutura, está próximo de Lisboa, e tem possibilidade de acesso fluvial a Lisboa. Não fui grande adepto da privatização da ANA, mas é aquilo com que nós vivemos. Se temos um concessionário que nos diz que, construindo o aeroporto no Montijo, o Estado português não tem de gastar dinheiro, não é um fator que possamos ignorar”, frisou.

“Se quiserem fazer o aeroporto em Santarém, façam. Mas não contem com a malta do Norte. As pessoas não vão compreender porque é que subitamente, com a hipótese da existência da Portela e de um aeroporto complementar, vão ter de deslocar-se. Os aeroportos são usados por pessoas, ao contrário dos portos, em que os contentores não escolhem. Posso estar enganado, mas as pessoas não vão querer viajar 85 quilómetros”, concluiu.

“Temos de olhar para o futuro e tomar uma decisão”

O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, considerou “inacreditável termos passado estes anos todos a discutir sem adotar uma solução. Estamos a prejudicar o turismo ao não tomarmos uma decisão”. “Vai ser uma escolha política, vai ter de haver essa decisão. Rui Moreira apresentou aqui pontos muito válidos sobre a distância. O aeroporto tem de ser internacional, mas tem de ser de Lisboa. Estamos desesperados por uma solução. Tudo o que atrasar esta decisão é mau para Lisboa. O custo de não ter um aeroporto é dramático para Lisboa. Agora temos de olhar para o futuro e tomar uma decisão”, vincou o autarca.

“Sou grande fã do Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Vai para além das fronteiras”, confessou Carlos Moedas, apelando a que a oportunidade seja aproveitada “para tomar uma decisão com base em factos, em evidência científica. Vamos tomar esta decisão, se não o país não avança.”

“O Estado vendeu soberania aeroportuária e tornou-se dependente dos interesses financeiros da Vinci/ANA. É dos episódios mais desastrosos de todo este processo político”, lamentou João Cravinho, reconhecendo que “não há unanimidade sobre as soluções, é necessário um compromisso em nome do desenvolvimento do país. Isso não se determina em duas conversas de café.”

O ex-ministro do Planeamento (1995-1999) defendeu que “o país tem uma zona metropolitana de escalão europeu, polinucleada, com dois grandes polos – Lisboa e Porto”. “Não vejo uma oposição entre desenvolver o máximo do Porto, como grande metrópole que é. É do interesse do país. Deve ser estimulado ao máximo. Isso interessa ao país. Os dois grandes polos conjugam-se e reforçam-se mutuamente, não faz sentido opô-los. Isso não faz sentido, é dividir o país. As vias estruturantes têm de servir o país todo, não apenas a procura local, imediata”, acrescentou.

A conferência “Novo aeroporto: tempo de decidir” vai decorrer na Fundação Oriente até ao final da tarde desta terça-feira e pode ser acompanhada online em direto.