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União entre Polícia Municipal e pessoas com necessidades especiais edifica cascata de São João idílica

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Com base na entreajuda, os agentes do Serviço de Policiamento Comunitário da Polícia Municipal e os utentes da Associação Somos Nós uniram-se, ao longo de quase dois meses, para construir uma cascata de São João recheada de tradição. Para as autoridades, foi uma oportunidade de mostrarem à comunidade uma vertente menos óbvia. Para os jovens adultos, serviu para dar asas à imaginação. Mas mais importante: reafirmar laços de amizade.

"Chegaram os meus amigos", clama Andreia, ao dirigir-se aos agentes da Polícia Municipal assim que estes entram pela porta da Associação Somos Nós, onde é utente há vários anos. Nas últimas terças-feiras, este ritual foi repetido pelas autoridades, que se dirigiam à instituição – localizada a escasso metros da "casa" da Polícia Municipal – para colocar mãos à obra.

Recebido de forma calorosa, o comandante da Polícia Municipal, António Leitão da Silva, não esconde o orgulho de ver sua equipa envolvida na construção da cascata de São João, criada e pensada por pessoas com dificuldades cognitivas. "É uma emoção enorme entrar aqui e ver um trabalho destes. E é uma surpresa ver esta qualidade", exalta, ao contemplar o trabalho agora concluído.

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Como todas as cascatas de São João, também esta conta uma história muito própria. Além de contemplar tudo o que faz do Porto uma cidade distinta – o metro a atravessar a ponte Luís I, os barcos rabelos a zarpar o Douro, as pitorescas casas da Ribeira, a roupa nos estendais, as gaivotas esfomeadas, as bancas de manjericos, as pessoas a assar sardinhas, o edifício da Câmara do Porto, a cúpula da Super Bock Arena, o Estádio do Dragão ou o farol da foz –, a maquete reflete, sobretudo, a boa relação que foi construída entre os utentes da Associação Somos Nós e os agentes do Serviço de Policiamento Comunitário da Polícia Municipal.

Dá ainda a conhecer, explica João Pedro, um dos jovens da instituição, as diferentes valências da Polícia Municipal, através de típicas quadras sanjoaninas que estão inscritas junto à colorida maquete.

São incontáveis os agentes representados na cascata de São João, sendo que cada figura foi executada minuciosamente à mão pelos jovens adultos da associação que apoia pessoas com dificuldades intelectuais a superarem-se a cada dia.

A Polícia só existe porque existem pessoas

"Ajudei a pintar. Ajudei a fazer a ponte D. Luís, fiz os bonequinhos, os cães. Foi muito trabalhoso. Custou muito a fazer a cascata, mas valeu a pena", garante Cristiana, uma das jovens que participou na construção da maquete, e que agora se mostra satisfeita com o que retirou da experiência. "É muito bom trabalhar em equipa", infere.

Para João Pedro, que ajudou "a colar as bandeirinhas" e construiu "o fogareiro com a ajuda da polícia, dos técnicos, das voluntárias" e até da família de alguns utentes, a experiência foi "incrível". "Um obrigado a todos pelo trabalho", enfatiza sorridente.

Embora os jovens da instituição já estejam habituados a fazer trabalhos manuais, explica a educadora social Eva Soares, este projeto tem um significado especial por colocá-los ainda mais perto da Polícia.

"Anteriormente, já fizemos exercícios conjuntos. Um trabalho que fazem com eles é capacitá-los para andarem sozinhos na rua, saberem atravessar uma passadeira, saberem a quem dirigir-se no caso de estarem perdidos", explica Filomena Costa, diretora da Associação "Somos Nós", ao realçar que este tipo de iniciativas permitem dar a conhecer as potencialidades da Polícia, fazendo com que os utentes olham para os agentes "como pessoas com as quais podem contar".

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E se, por um lado, estes jovens adultos com necessidades especiais reafirmam laços com as autoridades já conhecidas, também os agentes envolvidos tiraram proveito dos momentos de criatividade que resultaram numa grande construção.

"A Polícia só existe porque existem pessoas. E esta vertente de ajudar a comunidade é um desafio que temos todos os dias", reafirma o comandante Leitão da Silva, que ao ver a cascata finalizada não tem dúvidas: "Ganhamos todos".

Exposição no Bolhão

Também João Cunha, agente que orientou a equipa nos trabalhos de construção da cascata, garante: "Todos nós crescemos com isto". Sob o olhar atento e vaidoso dos jovens adultos, o chefe da divisão admite que todos os membros da instituição "são muito importantes", ficando no ar a hipótese de se concretizarem mais iniciativas que os coloquem à prova.

Porque "ser polícia é mais do que uma profissão", como diz o comandante Leitão da Silva, ficou combinado um passeio histórico junto à Sé do Porto, na condição de Andreia, ávida conhecedora de factos passados, descobrir e apresentar ao grupo três curiosidades sobre o edifício religioso situado no coração da Invicta. O desafio foi aceite, falta acertar a visita.

Enquanto isso, a cascata está exposta no Mercado do Bolhão, ao alcance de todos os que a queiram contemplar.