Cultura

A visão de Jorge Afonso Morgado sobre os últimos 25 anos da cidade

  • Paulo Alexandre Neves

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São 56 textos sobre a história do Porto nos últimos 25 anos. Crónicas que Jorge Afonso Morgado reuniu agora em livro, ontem apresentado no Palácio da Bolsa, e que foram publicadas, entre 1996 e 2022, em diversos órgãos de comunicação social (semanário Independente, jornal I, Jornal de Notícias, Público e Observador). Tantos assuntos retratados se mantêm atuais, que, passado um quarto de século, a cidade continua a mostrar ter uma identidade “à prova de bala”, ou seja, segundo o autor, “o Porto dinâmico e vivo, que não se cala, que não se acomoda nem se resigna”.

Há crónicas que parecem ter sido escritas por estes dias, tal a atualidade dos assuntos. Senão, veja-se o que o autor escreveu, em 2015: “O aeroporto do Porto é francamente mal servido pela TAP, que, sendo uma companhia estatal, deveria conjugar o interesse público com o equilíbrio territorial do país. Não o faz. O entusiasmo à volta do hub da Portela leva a que a generalidade dos voos entre o Porto e quase qualquer destino façam escala em Lisboa. Até para Faro”.

“Esta observação crítica continua, lamentavelmente, a fazer sentido. Sete anos passaram e a desconsideração da TAP pela cidade do Porto permanece irredutível, como temos vindo a denunciar publicamente”, afirmou o presidente da Câmara Municipal, Rui Moreira, durante a apresentação da obra, marcada pela presença da família do autor, do vereador da Educação e Coesão Social, Fernando Paulo, do presidente da Assembleia Municipal, Sebastião Feyo de Azevedo, do presidente da Metro do Porto, Tiago Braga, e de muitos amigos e amigas do autor.

Ainda sobre a TAP, e durante a apresentação da obra, também o presidente da Associação Comercial do Porto, Nuno Botelho, recordou a mesma crónica, para afirmar: “Não é preciso dizer muito sobre o assunto. Está à vista de todos”.

“O desafio vencido” de voltar a ter o Bolhão

Na opinião de Rui Moreira, “de forma arguta, o autor cruza o passado com o presente, o popular com o cosmopolita, a cultura com a mundanidade, a autenticidade com os modismos, a sofisticação com a tradição”. Para além disso, “o humor destas crónicas é intrinsecamente portuense e o seu autor tem a sem-vergonhice, muito tripeira, de ‘dizer o que pensa e pensar por si próprio’”.

E recordou mais um dos assuntos que Jorge Afonso Morgado abordou, em 2015, numa das suas crónicas: a viabilidade do Bolhão. “Mas afinal, quantos portuenses costumam frequentar o Bolhão? Quantos se lembram, vagamente que seja, de lá entrar? Genuinamente, parece-me que não muitos. A grande mudança será mesmo essa – voltar a existir no Porto um mercado que é um orgulho da cidade”, escrevia, então, o autor.

“Este desafio parece estar vencido – voltou a ‘existir no Porto um mercado que é um orgulho da cidade’”, sublinhou o presidente da Câmara, apontando que, no primeiro mês após a sua reabertura, o Bolhão ultrapassou a barreira das 600 mil entradas. O mercado tem vindo a registar uma média de afluência diária, nos dias úteis, sempre superior a 20 mil visitas e, aos sábados, de cerca de 30 mil visitas.

“O novo Porto”

Para além de se mostrar, igualmente, agradado com a comparação que o autor faz entre o Porto e a Catalunha – “no que respeita à defesa dos seus interesses perante o poder central”, disse –, Rui Moreira abordou ainda aquilo que Jorge Afonso Morgado chamou de “o novo Porto”, que a atual gestão municipal implementou ao longo dos últimos anos, não deixando o autor de recordar a obra deixada por Paulo Cunha e Silva. “A política cultural, a marca Porto., a requalificação urbana ou a promoção turística são algumas das áreas que [Jorge Afonso Morgado] destaca nas suas crónicas, revelando o olhar atento que reserva ao evoluir da cidade”, disse Rui Moreira, acrescentando: “Na crónica ‘A cidade maravilhosa’, Jorge Afonso Morgado observa que ‘o Porto de sempre (…) está a mudar para continuar a ser como é’. Este é o maior elogio que podem fazer à nossa governação municipal”.

Para o presidente da Câmara, “o processo de renovação do Porto, esse ‘novo Porto’, tem sido guiado pela convicção de que é necessário desenvolver e modernizar a cidade preservando as memórias, vivências e sensibilidades que esta encerra”.

“Era preciso mudar o Porto, torná-lo mais cosmopolita e sofisticado, mas sem delapidar o património histórico, cultural e afetivo da cidade. Por isso nos empenhámos em recuperar e requalificar alguns dos principais símbolos da identidade do Porto, como o Mercado do Bolhão, o Cinema Batalha ou o Teatro Rivoli”, frisou Rui Moreira.

“Uma assinatura da identidade portuense”

Jorge Afonso Morgado não deixa margem para dúvidas ao leitor, logo na introdução do livro: “’O Porto é uma Nação’ é uma assinatura da identidade portuense. São cinco palavras apenas. Juntas, explicam com simplicidade e eficácia o orgulho, a coragem, a independência de espírito, o sentido da liberdade e a efervescência do carácter do Porto. Seja o dos tempos antigos, que deu nome a Portugal, seja na atualidade”.

Sem pretensões de fazer a história da cidade dos últimos 25 anos, o autor não deixa, nas 180 páginas, com prefácio de Germano Silva e editado pela Primeira Edição, de concluir que “como as crónicas devem ser, é uma visão, crítica e discutível. Do Porto, do país e do mundo. O Porto contra ninguém. O Porto que sabe rir, chorar, tomar posição, dizer o que pensa e pensar sobre si próprio”.

Tal como sublinhou na sua apresentação, afinal, “esta é que é a cidade maravilhosa. É do mundo e tem mundo”.