Cultura

Diversidade da vizinhança do Batalha transforma a praça numa grande tela. Ou várias

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Histórias do "Arco da Velha" entre troféus. A "Cidade em Progresso", documentada à mesa de um restaurante. Ou os "Painéis do Porto" a rolar sob uma tábua de skate. “Vizinhos: Vai e Vem” é o programa que, durante a tarde do próximo sábado, dia 14 de setembro, vai levar o património fílmico do Porto aos vários espaços que fazem a comunidade da Praça da Batalha. Porque, antes de ser do mundo, o centro de cinema é do Porto, e do bairro.

Habituado a abrir as suas portas a todos, desta vez o Batalha fê-lo para sair à rua. E o que encontrou foram diversas portas abertas para o receber e o desvendar de outras possíveis salas de cinema – das maiores às mais pequenas, das mais culturais às mais improváveis.

“O formigueiro humano da azáfama do seu constante labor não pára nas ruas desta cidade de tão velhos pergaminhos, liberal e tolerante, hospitaleira e empreendedora”, assim conta Fernando Pessa, no filme "Porto, Cidade em Progresso", de Silva Brandão, que vai passar no restaurante Bangla Spicy.

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É um dos cerca de 200 filmes que integram a Filmoteca do Batalha e que podem ser vistos fora do centro de cinema. Parecendo que não, a parceria com o restaurante de comida bengali foi a mais óbvia, dada a relação que o Batalha alimenta, desde a sua reabertura, com a comunidade do Bangladesh, que vive na zona da Praça da Batalha.

O rosto desta amizade, Shah Alam Kazol, não tem dúvidas de que "é muito importante para nós, como cidadãos de fora, trabalhar em conjunto, promover a troca de culturas porque permite uma melhor integração".

"Graças a espaços como o Batalha, estamos a conseguir", reconhece o fundador da Associação Comunidade do Bangladesh. A conseguir a igualdade, também através da partilha de uma tela de cinema.

A cultura é sempre importante, é uma questão de educação”

Por falar em conquistas, é a história "Arco da Velha", de Tânia Dinis, que António Martins vai passar na parede da loja O Jogador, por entre as medalhas e taças que, há 50 anos, produz a partir da Travessa do Cimo de Vila.

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Foi a certeza de que "a cultura é sempre importante, é uma questão de educação", que o levou a aceitar abrir a loja, habitualmente fechada ao sábado à tarde, para receber os vizinhos neste "Vai e Vem". Reconhecendo a revitalização da praça a partir da atividade do Centro de Cinema, António acredita que "esta aproximação pode fazer com que as pessoas fiquem a conhecer o que têm à volta delas". A conhecer os vizinhos.

Quem, tantas vezes, também dá vida à praça é a comunidade de skaters e é por ela que Rita Garizo fez questão de entrar nesta experiência. Sócia da Kate Skateshop, afirma que a parceria com o Batalha "é interessante" pelo sentido de coletivo. "Aqui na rua somos todos amigos e apoiamo-nos uns aos outros", garante.

Por isso, e para "trazer um bocado a cultura para os miúdos que começam a andar de skate, para terem outro tipo de visão", quem passar pela loja vai poder assistir a "Painéis do Porto", o documentário de 1963, de António Reis e César Guerra Leal.

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Agradada por "terem recuperado aquele edifício lindíssimo e fazerem um cinema do interesse de todos", Rita considera que "tudo se interliga". "A cultura pode ser agregadora numa cidade", acredita.

A cultura é um ponto de união entre todas as vivências nesta zona da Batalha, é fundamental”

E é, também, para os vizinhos, para quem habita a cidade, que o NH Collection tem as portas abertas. No edifício paredes meias com o Batalha, o argumento passa-se num quarto de hotel, com vista para uma "zona de múltiplas culturas e de diversidade".

Considerando "enriquecedora" a participação nesta deambulação fílmica, o diretor comercial daquela unidade hoteleira sublinha que "a cultura é um ponto de união entre todas as vivências nesta zona da Batalha, é fundamental".

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"Temos que encontrar espaços agregadores num mundo cada vez mais intolerante. Haver um polo que nos agregue e nos faça mover em conjunto de forma harmoniosa é fundamental para o bem-estar social e para o bom funcionamento da cidade", afirma Vasco Cunha.

Gostamos que o Batalha seja internacional, mas ele é um projeto, profundamente, de bairro, um projeto local"

Este "Vai e Vem" é, nas palavras do diretor artístico do Centro de Cinema, "uma relação maior do Batalha com a vizinhança". "Nós gostamos que o Batalha seja internacional, mas ele é um projeto, profundamente, de bairro, um projeto local", sublinha Guilherme Blanc, referindo a importância e a vontade de "trabalhar com as pessoas, de estabelecer diálogo, ou, mais do que isso, amizade com quem está perto de nós, que queremos que entrem no Batalha e compreendam o que estamos a fazer". "O Batalha é um centro cívico", conclui.

A tarde de cinema arranca às 17h30, no Orfeão do Porto, com uma seleção de curtas-metragens do curso, promovido pelo Centro de Cinema, "A Nebulosa (Rua Escura)" e que conta com a presença dos realizadores.

Depois de visitar as casas de outros vizinhos com as mais inusitadas telas, o Batalha termina a iniciativa, inteiramente de entrada livre, no Centro Comercial Alexandre Herculano, com uma "Canção de Amor e Saúde", o filme de João Nicolau inspirado num conhecido shopping da cidade.