Moradores de Lordelo do Ouro recebidos na Câmara para expor insegurança associada ao consumo e tráfico de droga
Porto.
Notícia
“Um problema de vontade política” ao nível governamental. Assim concluíram os representantes de diferentes associações de moradores de Lordelo do Ouro que, na tarde desta quinta-feira, reuniram nos Paços do Concelho com o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, a presidente da Junta de Freguesia, Sofia Maia, e o comandante da Polícia Municipal, subintendente António Leitão da Silva, para expor o problema de insegurança relacionada com o consumo e tráfico de droga na via pública.
No final da reunião, em declarações aos jornalistas, o presidente da Câmara reforçou a certeza de que “há uma preocupação relativamente àquilo que alguns dizem que é um grande sucesso político em Portugal”. “Há pelo menos um território, na cidade do Porto, onde as pessoas não podem concordar com a visão maravilhosa de que está tudo bem e de que nós somos os melhores do mundo nesta política”, afirmou Rui Moreira, referindo-se à liberalização do consumo de estupefacientes.
Lembrando como “fizemos o que estava ao nosso alcance” em termos sociais, tanto no investimento nos bairros, como no trabalho com as associações de apoio aos toxicodependentes e, mais recentemente, a criação de uma sala de consumo assistido, mas também a futura instalação de equipamentos de videovigilância, na entrega de dez viaturas à Polícia de Segurança Pública (PSP), o presidente da Câmara diz que é tempo de “exigir responsabilidades do Estado”.
Rui Moreira instou o ministro da Administração Interna a resolver o problema porque “a competência é dele”. “Estamos a exigir a intervenção num espaço em que o Estado desapareceu”, acusa o presidente, acrescentando que “quando o Estado desaparece, é a lei do mais forte que prevalece”, ou seja, os traficantes.
Relativamente à falta de ação da polícia, Rui Moreira atira que “se a PSP diz que não tem como intervir, então a lei está mal”. Admitindo que os consumidores são, igualmente, vítimas, o presidente da Câmara defende, no entanto, que “não podem criar outras vítimas colaterais”.
Rui Moreira garante que não vai “fechar os olhos” à realidade naquela zona da cidade e ainda deixou a crítica de que “populismo é fingir que isto não existe”, é dizer que os números de overdoses não aumentaram desde a pandemia.
Da recomendação já entregue no Parlamente, o presidente da Câmara recordou várias medidas prioritárias: a intensificação do combate ao tráfico, a utilização de recursos do Ministério da Saúde, Segurança Social e Ministério da Administração Interna e, no curto prazo, “que se criminalize, sim, o consumo em frente às escolas”. “Se não têm enquadramento legal, crie-se o enquadramento”, instou Rui Moreira.
“Temos uma lei que é muito bonita, mas que falha na sua aplicação prática”
Assaltos a residências, a garagens, pernoitas em carros, pessoas a injetar-se à porta dos prédios. Estas são algumas das situações que têm deixado os moradores dos bairros em Lordelo do Ouro preocupados com a segurança da comunidade, uma situação que se vem agravando desde a pandemia.
“Com certeza que o primeiro-ministro não gostaria de sair de casa e ver alguém a injetar-se no pescoço”, garante Rui Carrapa, em representação da Associação Jardim Fluvial sem Drogas. Certo de que “sem se criminalizar o consumo no espaço público, esta situação dificilmente melhorará”, o morador acredita que “há um problema de vontade política”.
“Não vemos um reforço do policiamento, não vemos nenhum elemento associado a alguma associação de apoio às dependências na rua a dar apoio aos toxicodependentes. Temos uma carrinha que dá seringas, cobertores e alimentação e pouco mais”, descreve, acusando que “estamos a prolongar o sofrimento destas pessoas”.
“A rua é uma adição, não é uma escolha delas”, acredita Rui Carrapa, questionando: “é isto que é a civilização? Não é”.
Da Associação de Moradores do Bairro Marechal Gomes da Costa, Cristina Costa Reis afirma que “há uma impunidade total perante o tráfico”, uma vez que a “venda de droga é feita no espaço público”. “Sempre houve problema de tráfico naquela zona, mas muito mais ligeiro. Quando começou a pandemia, o problema multiplicou-se”, garante.
Lamentando a falta de policiamento e o facto de a Câmara “ter muitos poucos poderes” para intervir, a representante dos moradores pede que, pelo menos, “seja usada a sala de consumo”.
Manuel Gericota, da Associação de Moradores do Bairro das Condominhas, acusa a existência de “um problema grave” e uma “inoperância” da parte do Governo. “Temos uma lei que é muito bonita, mas que falha na sua aplicação prática”, afirma, acrescentando que “espaço público tem que ser um espaço para toda a gente”.
Todos os moradores estão de acordo que cabe a uma “solução global” do Ministério da Administração Interna, do Ministério da Saúde e da Segurança Social mitigar os problemas relacionados com a droga, seja consumo ou tráfico. Por isso, irão pedir uma reunião com as três entidades.