Política

Portugal ao Espelho quer benefícios sem custos

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O reflexo de Portugal no espelho de Rui Moreira mostra um país que quer o desenvolvimento, mas que não está preparado para as consequências menos boas que ele acarreta. Na Conferência do JN sob o tema "Portugal ao Espelho - Perspetivas e Oportunidades em ano de mudança", as intervenções do Presidente da Câmara do Porto e do Presidente da República olharam na mesma direção.

Reforçar a democracia é essencial para prevenir o avanço de movimentos populistas em Portugal. Para Rui Moreira e Marcelo Rebelo de Sousa, que hoje subiram ao palco do Teatro Municipal do Porto no âmbito do 131.º aniversário do JN, esse caminho só se consegue com "grande proximidade aos cidadãos" e com "uma opinião pública esclarecida".

Porque as tentações são muitas num tempo em que as redes sociais produzem "cidadãos fabricantes de notícias" e muitas vezes - também eles - " são inquisidores e linchadores", reconhece Rui Moreira, a Comunicação Social tem o dever acrescido de "resistir às fake news", combatendo os medos instalados e disseminados naqueles fóruns. 

Num Portugal que sofre de atavismo crónico, o espelho do autarca mostra-lhe ainda um país que tem ânsia de se desenvolver, mas que por outro lado não está disposto "a sacrificar" o benefício pelo custo. "As novas gerações  não estão preparadas para fazer sacrifícios inerentes à criação de riqueza". Nessa dualidade, preferem a inação à ação, considerou.

"Parece óbvio que não queremos extração de petróleo no Algarve, como não quisemos uma central nuclear em Sines. Parece óbvio que não queremos mais barragens, quiçá até queremos destruir algumas. Também não queremos extrair lítio, uma coisa que não sabíamos que tínhamos, mas que afinal não queremos ter. Não queremos eucaliptos nem oliveiras no Alentejo, porque parecem estar a provocar algum dano. E não queremos aeroportos novos nem queremos automóveis nas cidades", afirma Rui Moreira.

Como continuou, "queremos ter cidades com os benefícios dos turistas, sem querermos turistas, ou porventura queríamos que os turistas fossem transparentes. Queremos ruas pedonais, mas não queremos as pessoas que usam as ruas pedonais, porque nos queixamos que há gente a mais nas ruas. Queremos ter casas para poder alugar, mas não queremos senhorios, ou pelo menos não aceitamos que possam fazer as suas legítimas opções enquanto investidores. Queremos construir mais casas, mas não queremos aumentar a densificação da cidade", comparou o presidente da Câmara do Porto.

Já Marcelo Rebelo de Sousa deixou clara na sua intervenção a distinção entre "ser popular" e "ser populista". Se o primeiro conceito se aplica à "proximidade democrática ao cidadão", sendo "benéfica e indispensável na luta pela democracia", já o populismo acarreta consigo perigos que é necessário combater, desde logo com o reforço do Poder Local, consentiu.

"Neste ano de 2019, estar atento ao que reforça a nossa democracia é estar atento aos pilares fundamentais que a devem sustentar. Entre eles, um Poder Local que seja enraizado e, por isso, sólido, muito próximo, isento, honesto, transparente, eficaz, mas que tenha meios adequados ao que dele se espera. Que não suscite expetativas impossíveis, cortadas por visões centralistas", concluiu.

Na sessão de abertura, Daniel Proença de Carvalho, presidente do Conselho de Administração do Global Media Group (que integra o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, TSF, O Jogo, Dinheiro Vivo, entre outros jornais e revistas), salientou o "percurso de 131 anos do Jornal de Notícias ao serviço de Portugal e na formação de uma opinião pública mais esclarecida". Em particular, como "voz da cidade do Porto, mas também como representante dos portugueses que vivem fora da capital, tantas vezes esquecidos pelo Poder Central" e, por esse motivo, agradeceu a presença do Presidente da Câmara enquanto "representante desses valores e interesses".

Por seu turno, Domingos de Andrade, diretor do JN, assinalou que "a proximidade aos territórios e às pessoas é a marca distintiva" do Jornal de Notícias. Sobre o tema desta conferência ("Portugal ao Espelho - Perspetivas e Oportunidades em ano de mudança"), reconheceu que "é um exercício necessário mas exigente". No próximo domingo, avançou, o jornal vai lançar uma edição especial com uma vasta cobertura sobre esta reflexão, dando voz a políticos, especialistas e sociedade civil. Nela é apresentada uma sondagem acerca da perceção dos portugueses sobre si próprios que, como revelou o diretor, elegem o adjetivo "desenrascados" como aquele que melhor os classifica.

Da parte da tarde, a conferência recebe os vários líderes partidários, que falarão sobre as suas prioridades e visões para o futuro do país. Ana Catarina Mendes (PS), Heloísa Apolónia (PEV), André Silva (PAN), Jerónimo Sousa (PCP), Assunção Cristas (CDS/PP), Catarina Martins, (BE) e Rui Rio (PSD) são os nomes em destaque.