Educação

Ensino das humanidades é crucial face à evolução do mercado de trabalho

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O presidente da Câmara do Porto defende "que não podemos ter uma geração de pessoas amestradas" e que a educação deve ser o mais flexível possível, de modo a facilitar a aquisição de conhecimento transversal e não fechado sobre uma só área de estudo. Numa altura em que o mercado do trabalho atravessa uma revolução com a chegada da inteligência artificial, Rui Moreira sustenta que os profissionais vão distinguir-se da máquina pelo seu pensamento crítico em relação ao mundo, mas para isso o sistema de ensino tem de investir nas humanidades e na cultura, declarou hoje na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).

No âmbito de um debate sob o tema "De pé atrás: a crescente perda de confiança nas instituições", promovido pela FEP Junior Consulting para lançar a 20.ª edição do "Porto de Emprego", o autarca afirmou que "estamos a viver um período de tensões pós-milenar" e que "o tempo é um fator crítico, que causa enorme stress às pessoas, às organizações, e que exige que correspondamos cada vez mais rapidamente".

Este novo paradigma, que confronta com a introdução da inteligência artificial no nosso dia a dia e no mercado de trabalho, "vai obrigar a Universidade e o Município a prepararem-se para o choque", avisa Rui Moreira, que está convicto de que a Revolução 4.0 vai destruir e criar empregos.

Nessa medida, além das aclamadas soft skills (competências interpessoais), as oportunidades de emprego serão mais facilmente agarradas por quem apostar "na odisseia das humanidades".

"Concordarão que hoje há uma grande oferta cultural na cidade do Porto, mas as pessoas só consomem cultura voluntariamente. Acontece que no nosso ensino a questão da cultura não está presente. Ela está nos países da Europa Central. Depois, constatamos todos os anos porque é que esses países nos estão a ultrapassar: acima de tudo, tem a ver com a forma como os recursos humanos são trabalhados a partir da base. Perceberam que quando os miúdos tocam música clássica são, curiosamente, melhores alunos a matemática. São factos comprovados", atestou o presidente da Câmara do Porto, que lamentou a "diabolização da História" no ensino português e, como remédio, prescreveu à plateia à leitura de jornais.

João Miguel Tavares, que participava no mesmo painel, não poderia estar mais de acordo. "Tenho uma filha que foi para a área de Ciências ao 10.º ano, mas queria continuar a ter História. Disseram-lhe na escola que não era possível. É um crime", partilhou. Além desta questão, o jornalista e comentador afirmou que "a falta de confiança das instituições" passa também para as gerações mais novas, que acabam por preferir estudar e trabalhar fora de Portugal. "É um grande empobrecimento para o país", que infelizmente também não transmite a mensagem de que "vale a pena ficar", considerou.

E é precisamente neste contexto, continuou, que a Universidade tem uma responsabilidade acrescida, ao dar o exemplo à sociedade portuguesa de que é possível singrar pela meritocracia.

O debate, moderado pela pró-reitora da Universidade do Porto, Joana Resende, contou ainda com a participação de Rosa Areias, da PwC, e de Ana Vicente, da Sonae.

No encerramento da sessão, o diretor da FEP, José Varejão, destacou o trabalho que a Faculdade tem vindo a fazer no sentido de aproximar a Academia do mercado de trabalho, de que é exemplo paradigmático o "Porto de Emprego".

Considerada a maior feira de emprego promovida por estudantes universitários do país, o evento tem já 20 anos de história e estará de regresso de 3 a 4 de março do próximo ano às instalações da FEP.

+ info: Porto de Emprego